“Fiz tudo o que planeei fazer nos últimos seis anos”

Ana Leitão, licenciada em Comunicação Social e a frequentar o mestrado em Comunicação e Marketing, é aluna da Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV) há seis anos. Entretanto, foi membro ativo da Associação de Estudantes desta escola, tendo sido a sua única mulher presidente até hoje. Foi ainda diretora do jornal E-Line, publicação online gerida pelos estudantes, e é atualmente secretária da Federação Académica de Viseu. Neste momento, aos 24 anos, está de partida para ir atrás de novos sonhos, mas garante que nesta cidade “não deixou nada por fazer”.

ana1

Qual foi o teu primeiro contacto com o associativismo?
A AE ESEV aparece na minha vida logo no meu primeiro ano de licenciatura cá em Viseu. Antes disso, já tinha estado a estudar um ano na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e, até então, não tinha tido qualquer contacto com o mundo do Associativismo. O convite para a AE ESEV surge pela mão do Jorge Loureiro, que viria a ser presidente da AE ESEV. Na altura, tínhamos uma amiga em comum, a Daniela Guerreiro, que lhe indicou o meu nome e o Jorge decidiu confiar em mim. Confesso que me senti lisonjeada, mas também muito assustada. Tudo era um mundo novo e tive medo de não estar à altura do desafio. Até porque a primeira proposta foi logo para integrar um cargo da Direção Geral. Estava longe de saber que seria uma das melhores decisões que tomei e uma das coisas que mais alegrias, conquistas e vitórias me trouxe. A lista com que concorria acabou por ganhar as eleições desse ano e assim começou esta minha aventura.

O que achas que isso trouxe de positivo para a tua vida?
A AE ESEV em particular e o associativismo em geral, trouxeram à minha vida um sem número de coisas positivas. Desde já, trouxeram-me mais realismo, mais dinamismo e mais sentido de responsabilidade. Há muitas formas de passar pelo Ensino Superior. Há quem venha até aqui para ir às aulas, ter boas notas e conseguir um diploma. Há quem venha para sair muito, divertir-se e conseguir um diploma. E há quem venha para fazer tudo isso e ainda dedicar-se à causa do associativismo. Foi o meu caso. Decidi passar pelo Ensino Superior não apenas para tirar um curso, mas para aprender mais, contactar mais, criar uma rede de interesses e conhecimentos que vai para além do círculo da minha turma e dos meus amigos. E nisso a AE ESEV foi fundamental. Dentro de uma associação faz-se um bocadinho de tudo, por isso, a nossa participação neste tipo de projetos é, indiscutivelmente, uma mais valia e um acrescento de formação enquanto alunos, mas sobretudo enquanto pessoas. Posso, em alguns momentos, ter sacrificado algumas notas melhores, mas tenho a certeza que ganhei nas experiências que vivi e nos ensinamentos que ficaram.
Porque não te recandidataste depois do teu primeiro mandato?
A minha candidatura enquanto presidente da AE ESEV surge em condições muito específicas. Foi sempre objetivo da minha primeira equipa ajustar o calendário eleitoral ao ano civil. Assim, teria de existir um mandato intercalar, mais curto e de apenas seis meses, para que tal pudesse acontecer. Na altura, mais nenhum elemento da equipa estava disponível para assumir a continuidade nesses termos e eu acabei por ser a escolha. No entanto, tenho por filosofia que na nossa vida tudo tem um tempo determinado para acontecer. E eu achei que o meu tempo enquanto presidente da AE ESEV terminava ao fim daqueles seis meses. Foi um período de trabalho inesquecível, ao lado da melhor equipa que podia ter escolhido. E aproveito mais uma oportunidade para lhes agradecer o facto de me terem facilitado a minha função de presidente e por terem sido todo o apoio que eu precisava. Apesar de não me recandidatar, a minha ligação à associação continuou bem vincada e, para mim, isso foi sempre o mais importante.

O que dirias a alguém que pretende entrar no mundo do associativismo?
Que o faça. E que o faça de corpo e alma se essa for a sua vontade. Mas, acima de tudo, que o faça ciente das responsabilidades e trabalho acrescido que isso implica. Porque fazer parte de uma Associação de Estudantes oferece-nos talvez o melhor sentimento de pertença e inclusão, mas obriga-nos também a um esforço redobrado e responsabilidades acrescidas. Sobretudo, diria a alguém que se sente essa vontade, que vá atrás e que dê o seu melhor.

Como surge o projeto E-line?
O E-Line, jornal online da Associação de Estudantes, nasceu há cerca de três anos, na altura pelas mãos da primeira direção de que fiz parte. Eu própria fui membro fundador do jornal. E não há nada que me deixe hoje mais orgulhosa. Este foi um projeto sonhado essencialmente pela Daniela Guerreiro, na altura minha colega de turma e vice Presidente da AE. Na sua perspectiva, faltava na escola um espaço onde os alunos em geral, e os de Comunicação Social em particular, pudessem dar voz aos outros alunos e pôr em prática os seus conhecimentos. Depois de alguma pesquisa, de percebermos o que se fazia noutras Universidades e Politécnicos e de tentarmos adaptarmo-nos à nossa realidade, nasce o E-Line. Na altura, não tal e qual como o conhecemos hoje, mas já um jornal dinâmico, ativo e cujo objetivo máximo foi sempre dar voz aos alunos da ESEV.

Mais tarde tornaste-te diretora do projeto. Como avalias a evolução do jornal até hoje?
O E-Line tem tido um percurso notável. Em dois anos e pouco, o jornal cresceu consideravelmente, sofreu reestruturações, ganhou notoriedade e visibilidade e, sobretudo, tornou-se conhecido e referência para os alunos e para membros importantes da comunidade escolar e da cidade. Relembro, por exemplo, que no dia em que me despedi como diretora do projeto, o Capelão do IPV e o Dr. Guilherme Almeida, vereador da Educação, elogiaram o trabalho desenvolvido e deram-nos motivação para continuar. E, muitas vezes, são esses incentivos que nos fazem querer fazer ainda mais e melhor. E tudo isto só foi possível graças às equipas fantásticas que foram passando pelo jornal e pela direção da AE ESEV. Pela parte dos alunos colaboradores, notou-se uma adesão cada vez maior e um interesse crescente, o que se refletiu em mais e melhores conteúdos para o jornal. Relativamente à direção da AE, notou-se também um interesse e preocupação crescentes com o jornal, o que se traduziu em mais apoio e, logo, num melhor trabalho.

Na comemoração do primeiro aniversário, coordenaste a primeira edição impressa do E-line. Como foi esse desafio?
Foi cansativo, exaustivo diria, mas maravilhoso e infinitamente compensador. A primeira edição impressa do E-Line foi muito sonhada por mim e pelo Miguel Dias, na altura sub diretor do E-Line. Com todo o apoio do Presidente da Direção, Rui Ferreira, conseguimos concretizar essa ambição e tornar a primeira edição impressa do E-Line uma realidade. Na altura, foi um desafio que sabíamos à partida complicado, mas que mesmo assim quisemos assumir. Tudo era novidade para nós, mas, no final, percebemos que não fazia sentido ter sido de outra maneira. Depois de concretizado o projeto, a equipa do E-line saiu mais unida e coesa, com o sentimento de missão cumprida e de que tínhamos todos estado a empenhar esforços num objetivo comum. Foram, sem dúvida, semanas muito complicadas de trabalho, com horas de muitas indecisões, mas que valeram muito, muito a pena. Porque a sensação de ter nas mãos, ter fisicamente, algo que tínhamos sonhado tanto, foi indescritível.

Enquanto licenciada em Comunicação Social, o que é que a participação no E-line te trouxe de positivo?
Trouxe-me de mais positivo, sobretudo, aquilo que foi o nosso principal objetivo quando fundamos o E-Line: uma aproximação ao mundo real. Na verdade, o E-Line funciona como um laboratório, em que os alunos podem colocar em prática muitos dos conhecimentos que adquirem nas aulas. É uma espécie de “estágio” mais prolongado e próximo, de que os alunos podem ir usufruindo desde o primeiro ano de curso. A mim, e por ter sido sua diretora, este projeto trouxe-me também desafios ao nível da gestão de pessoas, gestão de equipa e gestão de conflitos. Ofereceu-me a oportunidade de liderar várias equipas e coordenar os seus trabalhos, com vista a um objetivo comum. E isso foi também um grande desafio e que me dotou de ensinamentos que, tenho a certeza, ainda me serão muito úteis.

A que se deveu o teu afastamento do jornal?
Usei para o E-Line a mesma máxima que usei para a associação. A determinada altura do percurso considerei que já tinha dado tudo de mim ao projeto, que já tinha conquistado tudo o que conseguia e que, por isso, era hora de o deixar em novas mãos. Senti-me, como disse na altura, como uma mãe que deixa um filho com os avós: sabe que fica bem entregue, mas vai sempre com o coração apertado. Na altura, deixei o E-Line nas mãos da Susana Oliveira e deixei-o com a certeza de que ficava bem entregue. No entanto, foi uma decisão difícil e o E-Line é ainda um projeto que me deixa muitas saudades.

As colaborações não se prendem apenas no associativismo estudantil

A Federação Académica de Viseu é também um dos projectos em que colaboras. Como surge o convite para a FAV?
O convite para a Federação Académica surgiu no ano passado, quando eu já era aluna de Mestrado. Na verdade, acho que o convite é apenas uma consequência lógica do meu trabalho e envolvimento na associação. Ao fim de alguns anos na AE ESEV, foi natural que o meu trabalho fosse conhecido (e reconhecido, felizmente) por membros de outras associações, o que culmina na equipa que lidera atualmente a FAV. Quando fui convidada ponderei ainda algum tempo, por não ter a certeza de conseguir fazer decentemente face a todas as responsabilidades, mas acabei por decidir aceitar. Sei, hoje, que se não tivesse aceite o convite já estaria arrependida e teria perdido a oportunidade de viver muitas e boas experiências.

Quais as principais diferenças entre fazer parte de uma Associação de Estudantes e uma Federação Académica?
À partida, pode pensar-se que o trabalho que se desenvolve numa Associação de Estudantes e numa Federação Académica é muito semelhante, mas isso não é tão linearmente verdade. Têm em comum o facto de ambos se desenvolverem no meio estudantil, de visarem sobretudo os superiores interesses dos alunos e de serem desenvolvidos por equipas multifacetadas de outros alunos que a eles decidiram dedicar-se. No entanto, têm também muitas diferenças significativas. O trabalho numa Associação de Estudantes é uma coisa muito mais diária e que implica o nosso envolvimento presencial, senão todos os dias, praticamente. Existem, ao longo do ano, inúmeras atividades e mesmo o acompanhamento aos alunos tem de ser diário. Ao passo que o trabalho numa Federação é muito mais concentrado em algumas semanas. Não que não seja desenvolvido ao longo de tempo, porque é, mas é mais notado e concentrado em períodos de tempo mais curtos e, consequentemente, mais intensos.

É tua intenção recandidatares-te à FAV?
Não. O meu envolvimento com o meio associativo termina aqui. Estou, neste momento, de partida de Viseu e, por isso, não faria sentido estar a assumir projetos que não poderei cumprir. Tenho a certeza de que a próxima equipa fará tão bem ou melhor e, por isso, saio com o sentimento de missão cumprida.

Uma jornalista, aspirante a blogger

ana2

Paralelamente a todos estes projetos em que estás envolvida, criaste ainda um blog na área da moda e beleza. Como surge mais esta paixão?
Comunicar foi sempre um processo que me foi inato e quis sempre fazê-lo de muitas e diferentes maneiras. A somar a essa vontade de comunicar, as áreas da moda e beleza sempre me despertaram particular interesse. Assim sendo, e depois de ter ponderado muito, decidi iniciar-me também no mundo da blogosfera. Até hoje, tem sido um desafio constante, uma enorme aprendizagem e, sobretudo, tem-me permitido uma descoberta constante sobre as diversas plataformas de comunicação, o que, para alguém que é licenciada na área, se torna duplamente desafiante e estimulante. No fundo, o blog começou por ser um hobbie e funcionar como uma libertação, mas, neste momento, tornou-se um projeto mais sério, pelo qual quero lutar e fazer com que cresça ainda muito.

De saída rumo a outros sonhos

Recentemente pediste o teu afastamento da AE ESEV. Qual a razão?
Como disse anteriormente, estou de partida desta cidade. Por isso, tornou-se lógico para mim, colocar o meu lugar à disposição. O atual mandato termina apenas em dezembro e eu não estaria presencialmente cá a partir do próximo mês. Então, para mim não faria sentido estar sem estar a 100%. Ponderei e decidi deixar o meu lugar a alguém que se possa agora dedicar de corpo e alma e fazer mais e melhor do que eu.

Como é que te sentes agora que estás de saída?
Nostálgica. Mas com um sentimento absoluto de missão cumprida e com a certeza inabalável de que o bom trabalho continuará a ser o mote principal da equipa que fica em funções. A AE ESEV foi para mim o grande projeto que vivi em Viseu. Foi “a minha menina”, aquela a que me dediquei, muita vezes, a 200% e também aquela que me deu a oportunidade de conhecer grande parte dos amigos que levo hoje daqui. Por isso tudo, parto já com algumas saudades, mas com a certeza de que não podia ter sido melhor e de que tudo aconteceu como estava determinado e no seu tempo certo.

Achas que ficou alguma coisa por fazer?
Acredito que ficam sempre muitas coisas por fazer. Talvez porque eu sou daquelas pessoas que quer sempre mais, que sonha sempre mais. Mas, se me abstrair dessa veia sonhadora, realisticamente, não ficou assim tanto por fazer. A nível pessoal, fiz tudo o que planeei fazer nestes últimos seis anos, ou mais ainda. Terminei a minha licenciatura, estou a terminar o meu mestrado, fui membro ativo da Associação, incluindo sua Presidente, conheci muitas e boas pessoas, saí muito, vivi tudo a que tinha direito e fui, maioritariamente, muito feliz. Por isso, não. Não ficou assim nada por fazer. Agora, só há ainda para fazer o que tenho sonhado e planeado daqui para a frente, já não em Viseu, mas com a certeza de que tudo o que vivi e aprendi aqui será fundamental para conseguir estar realizada e feliz.

Márcia Gomes (texto e fotos)

a