De “Benjamim dos Alpes” a homem dos sete ofícios na ESEV

Aurélio Rodrigues é eletricista e o “faz-tudo” da Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV). É aqui que trabalha há 18 anos e adora o trabalho que desempenha. Faz todo o tipo de manutenção nas várias escolas pertencentes ao Instituto Politécnico de Viseu, mas, principalmente, na ESEV. O eletricista diz dar “um jeito a quase tudo”, desde fechaduras, vidros, instalações de informática a instalações de eletricidade.

Aurélio Rodrigues, aqui na oficina onde trabalha todos os dias

Com o 9º ano de escolaridade, Aurélio Rodrigues de 54 anos, tirou um curso de eletricista em Coimbra e um curso de caldeiras a vapor. Natural de Sátão, perto de Viseu, o eletricista partiu para os Alpes, em França, com apenas 15 anos para trabalhar num hotel/restaurante: “foi bestial, era o benjamim daquilo, era o mais novo, tive lá experiências maravilhosas”, recorda com saudade.

O sonho de vida do funcionário é ter saúde e amigos. Para ele, é o essencial. Embora goste de estar em Portugal, o funcionário recorda com nostalgia outros tempos, porque “gostaria de nunca ter deixado França”.

Aos 23 anos, regressa a Portugal e começa a trabalhar como eletricista de construção civil. Esteve 10 anos numa das maiores empresas do setor, em Viseu. Mas a chegada à ESEV não iria demorar muito.

“O antigo eletricista da escola foi para Lamego, e precisavam aqui de pessoal, então eu vim. Inicialmente à experiência e acabei por ficar”, explica. Ao longo dos anos foi notando na instituição uma “grande evolução a nível informático”.

Aurélio assume-se como alguém que não desiste de encontrar uma solução para um qualquer problema técnico. Muitas vezes, perante alguma avaria que não esteja a conseguir resolver, Aurélio vai para casa a pensar na melhor maneira de resolver a questão: “nem que seja só pensar durante a noite como é que a vou resolver. Preocupo-me verdadeiramente com isto, embora não seja reconhecido, acho que merecia mais”, desabafa o funcionário.

O eletricista sente-se realizado com o que faz e diz fazer “maravilhas, poupo milhares de euros a esta instituição”.

A família de Aurélio Rodrigues está também na instituição. Isaura Rodrigues, é a telefonista da escola e o filho estuda no curso de Publicidade e Relações Públicas. A polivalência é o elo de ligação entre Aurélio e Isaura, uma vez que esta também já esteve na secretaria. Devido à falta de funcionários, acabou por ter de desempenhar o papel de telefonista. Para o eletricista, a mulher “é apenas uma colega de trabalho como outra qualquer, não passa daí”.

Aurélio diz que trata todas as pessoas numa base de igualdade, independentemente do estatuto ou do cargo: “seja com a presidência, seja com quem for, é conforme a necessidade. Não me guio pela patente da pessoa. Nem que fosse Presidente da República, comigo não é mais do que outro qualquer”, confessa.

Ao longo dos tempos a instituição teve de se adaptar aos alunos com necessidades especiais. Apesar de não estar diretamente relacionado com as infraestruturas para esses alunos, Aurélio ajuda sempre que há uma avaria e também ajuda os alunos que precisam de usar.

Um dos momentos de que Aurélio Rodrigues tem mais saudade são os almoços e jantares que se faziam com os docentes e não docentes da escola. “Agora já não fazem nada disso, o que é mau para a instituição, acho que dividem as pessoas por estatutos”, lamenta.

Apesar de gostar muito do que faz, não gosta de trabalhar sob pressão. Prefere que o trabalho seja bem feito. Para além do trabalho na escola, também gosta de se dedicar ao cultivo: “tenho um quintal, e gosto de plantar tudo o que é da época”. Aos fins-de-semana ajuda a “desenrascar amigos quando é preciso trabalhar na minha arte de eletricista, há sempre avarias a resolver”.

 

Texto de: Carlos Rafael Santos, Filipa Costa, Hildebrando Sarmento e Inês Vaz

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