Fontenários históricos de Salreu ganham uma nova vida
A reabilitação dos fontenários históricos da vila de Salreu tem vindo a ser uma aposta nos últimos anos por parte do presidente da junta, Manuel Almeida. Situada no concelho de Estarreja, Salreu foi declarada vila em 2004 e tem parte da sua história associada aos fontenários. “Cada fonte destas viveu momentos diferentes da nossa história e quase que podemos contar uma parte da história de Salreu”, refere Manuel Almeida.
Texto e foto: Bianca Dias (aluna do 1º ano de Comunicação Social)
Este ano, a vila já reabilitou quatro fontenários, a fonte da Santa Cristina, a fonte da Rochosa, a fonte dos Vales e a fonte do Porto Baixo. Todo este património edificado possui uma lembrança por detrás do legado da freguesia desde histórias e cantigas que faziam parte das vivências da população como a ida da mulher à fonte e os seus namorados que esperavam por elas, pois era o único momento em que estavam sozinhos, ou a canção da mulher que vai à fonte e não lhe caía a cantarinha, até momentos mais emblemáticos de Salreu, como as invasões francesas. A fonte de Vales, situada na estrada nacional 109, e devido às intervenções que ocorreram, ficou “quase escondida” e por uma questão de “vaidade” sobre a terra de Salreu e dos seus edificados, a freguesia decidiu reabilitar o fontenário para lhe dar um aspeto mais vistoso.
A reabilitação dos fontenários já havia sido realizada noutros anos, sendo alguns deles a fonte de santa cristina, fonte da carpinheira e a fonte da rochosa. Além disso, também outros fontenários mais importantes na história de Salreu foram reabilitados. Exemplo disso é o fontenário Visconde de Salreu construído junto ao hospital da freguesia. Visconde Salreu foi o mecenas da vila e mandou construir vários edifícios importantes para Salreu, como a escola das laceiras (é aqui que funciona atualmente a junta de freguesia), a escola de senhora do Monte e o hospital de Salreu. Visconde de Salreu ao ver que vinha muita população ao hospital decidiu construir um fontenário junto ao edifício para que os cidadãos que se deslocavam a pé ou levados pelos seus animais conseguissem matar a sua sede. Uma particularidade deste fontenário é que ele também tem um bebedouro para os animais.
Outra fonte que marca um momento histórico para Salreu e que foi reabilitada é o fontenário do vidoeiro, que assinala o papel que a freguesia teve na segunda invasão francesa a Portugal. Houve um combate entre os salruenses e os soldados franceses e, com isso, cinquenta pessoas da freguesia morreram, o que na época era muito e marcou significativamente Salreu. Para assinalar este momento, foi construído um fontenário num local que tem um declive, pois, atualmente, assume-se que deve ter sido naquele declive que “as pessoas de Salreu conseguiram colocar-se num ponto mais alto para complicar a invasão”.
Por muito que antigamente estes fontenários fossem utilizados pela população, hoje já não é muito recomendado, por isso, a sua reabilitação é meramente para embelezar a localidade. A razão pela qual a junta de freguesia não recomenda e deixa “reservas” para que as pessoas tenham cuidado ao utilizar aquela água é devido ao facto de não serem feitas análises de forma regular ao controlo da qualidade da água. A junta da freguesia não está a afirmar que a água seja “imprópria”, mas não tem como assegurar que esteja totalmente própria para beber. “Nós não estamos a dizer que a água é imprópria, mas não temos a certeza que seja própria. Em algum determinado momento pode não estar e como essas análises não são feitas com regularidade, acabamos por ter uma postura de reserva para não cairmos em risco de criar algum problema às pessoas”, diz Manuel Almeida.
Para a reabilitação dos fontenários, a junta de freguesia utiliza duas formas de financiamento: os meios da própria freguesia e através de candidaturas a um programa que o governo criou. Assim, foi criado um pacote de delegação de competências em que o governo passou algumas competências que estavam nas suas mãos para as Câmaras Municipais. Estas podiam também transferir essas competências às juntas de freguesia e a reabilitação dos fontenários em Salreu foi um desses casos, e a Câmara Municipal de Estarreja transferiu um valor para a junta de freguesia de Salreu para a manutenção das ruas da vila e isso inclui a reabilitação dos fontenários.
Além disso, o processo da reabilitação é bem fácil, uma vez que, normalmente, só é preciso reabilitar o que já existe, nomeadamente as paredes que vão ganhando fendas, pintar muros ou colocar uma saída de água nova, pois as que já lá estavam apodreceram aos longo dos anos. Só num caso ou noutro é que é preciso a ajuda de alguém mais competente.
A população de Salreu demonstra a sua felicidade e satisfação quando vê estes espaços a serem reabilitados, pois faz parte da imagem da terra. Gostam de “ver aqueles espaços a serem requalificados e a não ficarem degradados e a desaparecer”. Manuel Almeida comprometeu-se a reabilitar a fonte do corvo que “está muito antiga e a precisar também de uma intervenção que provavelmente ao não ocorrer este ano [2024], irá ocorrer no início do próximo ano [2025]”.