Banda Musical Flor da Mocidade Junqueirense, 126 anos de música e amizade que unem gerações

Com 126 anos de história, a Banda Junqueirense tem sido muito mais do que uma instituição que preserva tradições, é também um símbolo de união e companheirismo. Por detrás de cada nota, há histórias, laços de amizade e uma dedicação inabalável à arte.

Reportagem de Andreia Soares

Fundada a 11 de setembro de 1898, localizada na freguesia de Junqueira, em Vale de Cambra e inicialmente conhecida como “Filarmónica Flor da Liberdade Junqueirense”, a banda foi criada com a intenção de promover a música como uma forma de expressão cultural e identidade local. A sua primeira sede situava-se no lugar da Calvela, freguesia de Junqueira e a sua primeira atuação ocorreu na Páscoa de 1899 com dúzia e meia de elementos.

Ao longo dos anos a instituição foi progredindo lentamente, enfrentando algumas crises profundas, devendo-se ao baixo nível de vida dos elementos que a constituíam, na sua maioria camponeses. Em 1935, a sua direção resolveu alterar o nome para “Banda Musical Flor da Mocidade Junqueirense”, denominação que predomina até os dias de hoje e que foi oficializada através de escritura pública outorgada no cartório de Vale de Cambra. Mais tarde, em 1949, construiu a sua própria sede em Junqueira de Cima, de reduzidas dimensões e fracas condições que iam aumentando com o passar dos anos. Assim, em 18 de junho de 1995, uma nova sede foi inaugurada, oferecendo instalações modernas e adequadas às necessidades crescentes da banda.

Banda musical viu o seu nome alterado em 1935

Com mais de um século de existência, com os seus altos e baixos, a Banda Junqueirense sempre foi uma grande referência do índice cultural de Junqueira sabendo levar bem longe o nome da sua terra e conquistado o carinho das pessoas de inúmeras terras por onde tem passado, desde a sua atuação na Páscoa de 1899, até às mais relevantes, como a digressão pelos Estado Unidos da América (EUA), onde participou nas comemorações do Dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas de Newark em 1993, até um concerto em Espanha em 2004. Em solo nacional a banda tem tido uma presença constante em festividades, procissões e eventos culturais.

“A vida extra que Junqueira ganha com a banda em atividade”

O presidente da Assembleia Geral, Daniel Tavares, afirma que a “Banda Junqueirense é uma associação inserida num meio rural, numa freguesia do interior do concelho” de Vale de Cambra “com menos de um milhar de habitantes, que consegue congregar dezenas de músicos semanalmente para as suas atividades regulares, seja para ensaiar ou até mesmo para cumprir com o seu serviço filarmónico pelo país fora. É possível constatar a vida extra que Junqueira ganha com a banda em atividade”.

Em 2001 a Banda Junqueirense decidiu dar mais “um passo em frente” e gravou em CD todo o trabalho desenvolvido ao longo dos anos. O primeiro “Sons e Melodia” em maio de 2001 e o segundo “Czardas” em outubro de 2001. Em 2003 o ano ficou marcado pelas comemorações do 105º aniversário da banda e pelo lançamento do terceiro CD “Olá Junqueira” com algumas obras alusivas à banda e à freguesia de Junqueira. Em agosto de 2015 surge o mais recente trabalho discográfico “Mocidade Junqueirense – Vol.4”.

Com a chegada da pandemia Covid-19, a Banda Junqueirense soube reinventar-se e dessa forma manter-se unida de tal maneira que nunca parou por completo a atividade musical. O papel das novas tecnologias foi fundamental para o sucesso desta coletividade em tempo de pandemia, pois permitiu, ainda que à distância, que os músicos se unissem à volta da causa da música e assim mantivessem a atividade musical. A pandemia levou a banda a transformar-se, investindo na criatividade na forma de transmissão de música à população e na manutenção do espírito de grupo. Partilhas de vídeos e apresentações online de trabalhos efetuados nas redes sociais, divisão da banda em dois grupos para que as medidas de distância fossem respeitadas, entre outros foram algumas das formas de como a coletividade se soube adaptar e reinventar. 

Durante 126 anos de existência muitos foram os maestros que passaram pela direção artística da Banda Musical Junqueirense, destacando-se Manuel Marques, Fernando Batista, Manuel Joaquim Almeida, Paulo Almeida e o atual maestro, Patrick Monteiro.

Atualmente, a Banda Musical Flor da Mocidade Junqueirense é constituída por cerca de 68 músicos, que na sua maioria fizeram a sua formação na escola da banda, a Escola de Música Manuel Joaquim de Almeida, que desempenha um papel crucial na formação dos músicos e serve como uma etapa preparatória para a integração na banda principal, garantindo a continuidade. A sua direção artística está a cargo do maestro Patrick Monteiro e do maestro adjunto Tiago Tavares, sendo que ambos iniciaram os seus estudos musicais na Banda Musical Flor da Mocidade Junqueirense.

Escola de música é pilar da banda

A Escola de Música Manuel Joaquim de Almeida começou a funcionar a partir de 1978 fundada pelo antigo maestro e atual músico Manuel Joaquim de Almeida. A Escola de Música é o grande pilar de sucesso que a banda tem vindo alcançar ao longo dos anos.  Atualmente 90% dos elementos que compõem a banda fizeram a sua formação na escola de música.

O presidente da direção da Banda Junqueirense, Pedro Tavares, diz que é importante “dar continuidade a esta obra iniciada há 126 anos”, e que face aos desafios encontrados, a banda nunca deve esquecer “o enorme legado que foi deixado, assim como, a coragem para lhe dar a mesma continuidade”.

Ao longo dos anos, a banda enfrentou e enfrenta vários desafios como a atração de mais crianças e jovens para a aprendizagem musical, a alta competitividade no meio musical, pois a qualidade artística das bandas filarmónicas está cada vez mais elevada, e nesse sentido, para se manter relevante, a banda precisa de investir continuamente. A preservação da identidade, como manter viva a história e tradição da banda é um desafio contínuo, entre outros. Apesar dos desafios a Banda Junqueirense tem uma capacidade de se adaptar, inovar e superar, o que tem sido a chave para a sua longevidade e relevância.

Mesmo com mais de um século de história, a Banda Musical Flor da Mocidade Junqueirense não deixa de se adaptar aos novos tempos. Além de preservar as suas tradições, como as janeiras no início do ano, a banda tem explorado novos géneros musicais e colaborações artísticas, onde se podem destacar, o concerto com o artista português FF, Fernando Fernandes, em 2022, o concerto com o artista Berg em 2024, entre outros.

“O grande orgulho de toda a freguesia”

João Tavares, ex-presidente e ex-músico da Banda Junqueirense, confessa que para si falar da banda é “falar de muita cultura, falar de antepassados corajosos, mesmo com meios bastantes escassos”, é “falar de várias gerações que, ano após ano, conseguiram elevar a Banda a patamares de excelência” e que “a Banda Musical Junqueirense é, sem dúvida, o grande orgulho de toda a freguesia”.

A presença ativa da banda nas redes sociais, incluindo Facebook, Instagram e Youtube, permite que partilhe as suas atividades e eventos com um público mais amplo, aproximando-se das novas gerações e da comunidade em geral. Assim, a relação entre a banda e a comunidade local é simbólica e importante para o crescimento desta. A banda não forma apenas músicos, mas promove também, um senso de identidade e pertença.

A Banda Musical Flor da Mocidade Junqueirense sempre se pautou pela sua versatilidade e pela vontade de inovar. É a coletividade mais antiga do concelho de Vale de Cambra, com 126 anos de atividade ininterrupta. A Banda de Junqueira continua a levar o bom nome da sua freguesia, do concelho e de Portugal, de norte a sul do país e além-fronteiras. O maestro Patrick Monteiro, considera que “existem algumas características que acompanham a história da Banda e que pessoalmente” defende “que a tornam particular e especial” como a “humildade, dedicação, generosidade, amizade e empenho”.

A Banda Musical Flor da Mocidade Junqueirense é um exemplo de resiliência e compromisso com a música e a cultura ao longo dos seus 126 anos de história. Simboliza união, identidade cultural e orgulho local, refletindo a força de uma pequena freguesia do país.

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