Natal no Mercado de Seia, a montra do melhor que se produz na região
É ao entrar no mercado da cidade de Seia, que desde logo se percebe, através do aroma agradável, os produtos de destaque desta região. Emanam no ar os aromas a queijo e a enchidos que deixam qualquer visitante com vontade de ficar e apreciar estas iguarias. São muitas as pessoas que procuram estes produtos, principalmente na época natalícia. Mas no mercado, os produtos em exibição, vão muito além destas tão conhecidas iguarias.
Reportagem de João Mota
O espaço do Mercado é dedicado aos produtores e artesãos locais, servindo assim de montra ao que de melhor se produz na região. Este ano o Mercadinho de Natal decorreu durante os fins-de-semana de 1 a 22 de dezembro, recebendo um total de 133 expositores. A cada dia um novo mercado. O mercado tem espaço para 19 expositores, o que faz com que os visitantes encontrem produtos diferentes a cada dia.

São vários os produtores que aproveitam estas iniciativas para promover os seus produtos. É o caso de Telma Clara, uma artesã de 36 anos, que tem uma loja no mercado há cerca de 1 ano. Telma apresenta o seu produto da seguinte forma: “O meu forte aqui é o artesanato. São peças criadas por mim e tento ser exclusiva”.

A artesã confessa que é durante a época natalícia, que existe maior quantidade de clientes, principalmente quando há neve acabando “por circular muita gente”. “Depois, o resto do ano,” recebem “o típico turista que está de passagem”.
Relativamente ao mercadinho de Natal, Telma Clara refere que “é um ponto essencial porque os produtores e artesãos podem divulgar mais os trabalhos. Nem toda a gente tem venda direta com o público e, os mercadinhos de Natal, acabam por ajudar esse tipo de pessoas”.
Quanto aos apoios “são sempre poucos. “Pelo menos a nível de município havia de apostar-se mais, não só nesta época de Natal ou não só na época da Feira do Queijo”, mas também “durante o ano deveria haver, pelo menos, mais incentivos para as pessoas acabarem por divulgar também os seus trabalhos”.
Esta é também uma opinião de Elisabete Garcia de 67 anos, que reforça a importância dos mercados e que o município poderia apoiar mais os pequenos produtores. O espaço da loja de Elisabete Garcia chama-se Minerais Artes Rurais e existe há 3 anos.

A guardiã deste espaço refere também que as pessoas apostam no seu produto para ofertas, principalmente na época natalícia, época que traz maior fluxo de clientes. Elisabete Garcia afirma que as alturas festivas são mais favoráveis à venda, devido aos turistas que “vêm trazer mais movimento à loja”. Apesar disso, recebe clientes durante o ano todo, pois grande parte já conhece o espaço, tornando-se clientes fixos. A venda de minerais e cristais é o que atrai mais as pessoas.
“Agora está tudo mais caro“
Dos produtores fixos passamos aos que usam, em alturas festivas ou no dia de feira semanal (quarta-feira), o espaço do mercado para a divulgação dos seus artigos.
Liliana Correia de 47 anos, é artesã. Começou o seu trabalho na “olaria tradicional” há 6 anos. As suas peças são feitas “na roda, principalmente, com técnicas variadas” e “mais modernas”. Costuma percorrer algumas feiras, no concelho de Seia, e acaba por vender peças em casa, “mas não é uma loja aberta ao público”.

Liliana Correia sente que as iniciativas do município “conseguem apoiar, mas poderia haver mais”. A artesã mostra-se “contente” por poder mostrar o seu trabalho nestas feiras de época. Esteve no local durante a época de Natal e, para ela, a olaria é apenas um hobbie que tenta conciliar com o seu trabalho.

Apesar dos aumentos registados nos últimos tempos, Liliana Correia diz que as pessoas “continuam a comprar praticamente igual aos outros anos”. Se para quem compra os aumentos, parecem não importar, para quem produz importam e muito. “Agora está tudo mais caro”, é o desabafo da oleira que aponta como seu maior gasto a eletricidade devido ao forno que usa para cozer as suas peças.
Ainda assim, Liliana Correia, que partilha o mesmo hobbie com o marido, vai continuar porque gosta de fazer e porque as pessoas gostam do seu trabalho. Gostam e procuram, principalmente no Natal. Também a artesã já tem os seus clientes fixos que, se souberem onde ela se encontra, vão “de propósito” porque “quem já comprou gosta, logo vem cá”. Por vezes as pessoas encomendam artigos dando a conhecer, aos demais clientes, outros tipos de peças, que Liliana Correia também executa, fazendo com que posteriormente haja mais encomendas.
Queijo, o rei da região
Percorrendo outras bancas podemos encontrar o rei desta região, o queijo. É na banca de Lúcia Pessoa que podemos encontrar esta tão nobre iguaria.
Aos 42 anos, Lúcia Pessoa, juntamente com a sua irmã, assume o cajado deste “negócio familiar” que vem dos “avós paternos”. É o primeiro dia que está no Mercado de Natal. Confessa que nos outros dias “não foi oportuno vir porque é uma altura muito complicada, muito trabalho”.

Também Lúcia Pessoa defende a opinião dos produtores anteriores, referindo que deveria haver mais espaço para divulgar os produtos. “É muito bom, é gratificante vir a estes pequenos mercados mostrar aquilo que é nosso, mas devia ser um pouco mais divulgado” e “pelo menos uma vez por mês, devíamos ter a oportunidade de mostrar os nossos produtos regionais”.
Embora o queijo seja um produto da região, nem sempre é valorizado. Lúcia Pessoa diz que o “consumidor infelizmente não valoriza o produto” e confessa que “já houve períodos com mais adrenalina do que neste momento”.

Com a não valorização por parte dos consumidores e devido aos poucos apoios, Lúcia Pessoa reconhece que “não é fácil” suportar um negócio nestas condições. O período de inflação e de guerras dos tempos atuais reflete-se no comportamento das pessoas que já “pensam duas vezes” antes de comprar. “Estamos a falar de um produto caro. Independentemente de ser queijo genuíno, mesmo da Serra, nota-se as pessoas a comprarem menos”.
Não se pode sair de um mercado sem passar pela banca dos legumes e das hortícolas. Natália Fernandes é produtora deste tipo de produtos. Tem 56 anos e costuma vender nos mercadinhos da zona percorrendo também algumas feiras. Natália Fernandes diz que costuma correr bem, mas “agora no tempo em que estamos”, o Natal, “mais ou menos”. “Estamos num tempo em que as pessoas preferem ir pagar mais caro aos supermercados e não vir aos nossos mercados” porque estão a ficar “mais antiquados”.

É um aspeto que deixa Natália Fernandes desanimada porque acredita que as pessoas “sabem que é o produto da nossa terra, que cultivamos”, mas mesmo assim, “vão comprar outros produtos que estão cheios de químicos”. A comerciante desabafa que os consumidores “pagam caro porque querem, porque gostam” e isso é fruto do facto de os mercados estarem a perder o seu valor, levando a que as pessoas procurem as grandes superfícies que, como diz Natália Fernandes, “é mais civilizado, é outro ambiente”. Realmente as grandes superfícies “têm tudo”, mas os produtores locais também têm “de tudo um bocadinho”.
Natália Fernandes diz que o Mercadinho de Natal “é uma boa iniciativa” por parte da Câmara Municipal de Seia e reconhece que o município está a “fazer um esforço”. Só que o esforço não chega, pois, “os pequenos” não têm grandes apoios. “Já somos fracos e por sermos devíamos ser mais apoiados do que aquilo que estamos a ser”.
Mas apesar de tudo, o principal, são os consumidores, que do ponto de vista de Natália Fernandes, não se “interessa” pela “qualidade”, mas sim por ir ao supermercado quase como “um ato de passeio”, levando-os a “colocar tudo para dentro do carro e depois, ao fim do mês é que veem o dinheiro a faltar”.
Mercado com novas valências desde 2021
Segundo a Câmara Municipal de Seia, “todas as quartas-feiras são dia de mercado, entre as 7h00 e as 13h00, com um total de 19 produtores nas bancas, onde são vendidos hortícolas, fruta, pão, mel, queijo e flores. Nesses dias estão também abertas ao público as lojas da peixaria e do talho”. “Nas épocas festivas são realizadas outras iniciativas como é o caso do Mercadinho de Natal, em que aos fins de semana conta em cada dia (sábado e domingo) com 19 expositores – artesanato, produtos alimentares e hortícolas”.
No ano de 2021, “o Mercado Municipal de Seia foi alvo de uma estratégia de revitalização que visou conferir novas valências de um local de usufruto, com nova decoração, praça de alimentação com lugares sentados, esplanada ao ar livre, internet gratuita e novas lojas”. Esta revitalização teve como objetivo criar um “polo de atividade económica e social, fornecendo à cidade um local onde se respeita e celebra as pessoas e os valores locais”.
.A Câmara Municipal dispõe de um documento “com informação sobre o âmbito, valores, objetivos, organização e gestão, espaços e tipologias respeitantes ao Mercado Municipal”. Nesse documento é relevante destacar a forma de como os produtores e artesãos podem candidatar-se para poderem usufruir dos pontos de vendas do mercado, sejam em lojas ou bancas. As bancas destinam-se a “produtores locais ou regionais de bens alimentares ou outros. No caso das lojas embora se privilegie igualmente os produtores locais, alarga-se a participação a explorações que se dediquem à exposição, prestação, venda ou confeção de outros produtos e serviços”.
Nestes dois casos “os destinatários podem ser pessoas singulares ou coletivas, unipessoais ou microentidades” O município não aceita “candidaturas de empresas/marcas de representação internacional ou franchising. Têm precedência de inscrição os pequenos produtores sedeados no Concelho de Seia”. Para a formalização da candidatura, os destinatários, devem preencher uma ficha disponibilizada online, através do site do Mercado Municipal, ou em papel, se for solicitada “no Balcão Único da Autarquia”.
A Câmara Municipal de Seia vê o Mercado Municipal como uma montra disponibilizada para que os produtores divulguem os seus produtos. As opiniões de quem vende, coincidem em grande parte, mostrando que as épocas festivas são a causa do grande movimento tão característico dessas festividades. É algo que a Câmara Municipal de Seia confirma. O movimento no mercado é sempre maior, quando lhe é imposto um evento cultural, seja ele a Feira do Queijo ou, neste caso, o Mercadinho de Natal.