Fazer Bagaço ainda é tradição nas nossas terras

A paixão pela produção artesanal permanece viva e os proprietários da marca Luiana, revelam os segredos e a complexidade que existe por trás do tradicional bagaço.

Reportagem de Érica Rebelo e Raquel Pereira

Antigamente o bagaço servia, muitas vezes, de mata-bicho, era utilizado pelos homens como desinfetante, para aliviar dores nos dentes, curar aftas e manter as pessoas rijas para trabalhar, agora há quem não dispense aguardente como digestivo para acompanhar o café.

O bagaço na marca Luiana já é produzido há mais de 40 anos. Começou com o falecido Manuel do Cabo, como era conhecido por muitos na freguesia de Abade de Vermoim, em Vila Nova de Famalicão. Luís Carneiro, decidiu continuar, há 12 anos, o negócio do seu pai, juntamente com a sua mulher, Anabela Carneiro. Deram-lhe o nome de Luiana, junção dos nomes dos proprietários: Luís e Anabela

“É algo que gosto de fazer, faço por gosto, porque cresci a ajudar o meu pai a produzir o bagaço, assim como a ginjinha. Já ensinei a minha mulher e espero poder dedicar-me a isto a 100% quando estiver reformado. Fazer bagaço ainda é uma tradição nas nossas terras e espero que um dia os meus filhos queiram continuar o legado da família”, conta Luís Carneiro

“Antigamente, quando o meu pai começou a produzir e vender bagaço para fora, não existiam burocracias. Foi há mais de 40 anos, as pessoas levavam garrafas e pipos de vinho para o meu pai encher. Atualmente não é assim que funciona, temos de vender em garrafas de vidro com etiqueta da marca registada”, afirma Luís Carneiro.

Desde a perda do pai que Luís Carneiro encontra a paz no alambique. No meio do vapor e do calor sente-se abstraído dos seus problemas, e confessa que encontra o conforto naquele que, em tempos, foi o espaço preferido do seu pai, onde juntos passaram bons momentos e onde recorda com carinho todos os ensinamentos do pai e que espera poder ensinar aos filhos.

Anabela Carneiro dedica-se inteiramente ao negócio do bagaço, enquanto o seu marido está fora em trabalho. “No início, quando o meu marido me propôs continuar a produção, não era algo que eu gostasse de fazer”, confessa. “Custou-me muito habituar a um estilo de vida que me era desconhecido. No alambique é duro, as temperaturas são muito quentes e passava mal com tanto calor, mas com o tempo e a paciência do meu marido, aprendi a gostar”, revela a proprietária.

Anabela Carneiro, proprietária da marca Luiana

Processo de uma semana

“Tem que se lhe diga a produção do bagaço, não é fácil, é algo complexo. Inicialmente junta-se o bagaço das uvas recolhidas na vindima no alambique, máquina que produz o que conhecemos como Bagaço, ou aguardente, dá-se início a destilação, a temperatura do alambique é aumentada e começa a subir o vapor, quando este começa a subir diminui-se a temperatura do alambique sai então as primeiras doses de bagaço”, começa por explicar Luís Carneiro, proprietário da Luiana.

A produção do Bagaço tem início em outubro, logo após a colheita da vindima e vai até ao final do ano. É um processo demorado. Na propriedade de Luís e Anabela Carneiro, produz-se também licor de ginjinha.

Aguardente bagaceira Luiana

“O processo da produção da ginjinha é mais fácil do que o processo do bagaço, uma vez que estando o bagaço feito é só escolher as ginjas mais maduras, lavá-las e cobri-las de açúcar, deixar repousar um dia e depois cobrir o restante com aguardente. O processo até poder vender ou consumir é de uma semana, é muito menos demorado e mais fácil que o do bagaço. O segredo é ir abanado a garrafa todos os dias durante essa semana e a ginjinha fica maravilhosa”, explica a proprietária.

A tradição não morreu nesta família e os costumes matem-se, Luiana é fruto do amor e dedicação a um negócio, embora pequeno, mas com grande potencial porque o mais importante, a dedicação e o gosto pelo que fazem está presente neste negócio familiar

a