“A crise aumenta, o povo não aguenta”: o custo de vida em Portugal
Desde o início da pandemia da Covid-19, em 2020, que a inflação tem afetado o aumento do custo de vida em Portugal. Os portugueses já não conseguem viver como viviam há dez anos. Agora, com o início da Guerra da Ucrânia, as dificuldades continuam. Telmo Reis, membro do movimento São Sempre os Mesmos a Pagar, defende que é a altura de o Estado português agir para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Reportagem de Mariana Santos e Rodrigo Machado
A necessidade de o Governo português tomar medidas fulcrais é uma das preocupações de Telmo Reis, desde a fixação de tabelas nos produtos de bens essenciais, nos combustíveis e na eletricidade. “O Estado e a Energias de Portugal (EDP) têm acumulado milhões e não percebemos porque é que têm acumulado milhões, sendo uma empresa do Estado e não pode baixar o imposto sobre valor acrescentado (IVA)”, refuta.
As instituições financeiras portuguesas são um dos principais beneficiários do aumento do custo de vida em Portugal. Segundo Telmo Reis, a inflação deve ser combatida com a redução da taxa de juro para que os portugueses consigam sobreviver.
Para o membro da organização Os Mesmos de Sempre a Pagar, o IVA Zero não é a solução que os portugueses precisam. Os donos das cadeias alimentares em Portugal são outro dos favorecidos pelo aumento dos preços na alimentação. Por exemplo, o grupo Jerónimo Martins, “aumentou os lucros em 59% em face ao período homólogo do ano anterior, estamos a falar em 140 milhões de euros”.
Com o intuito de combater contra o aumento do custo de vida, a organização Os Mesmos de Sempre a Pagar, saiu à rua, na cidade de Viseu, no dia 3 de junho com o lema “A crise aumenta, o povo não aguenta!”. Os manifestantes iniciaram o percurso às 11h00, na rua Mendonça e terminou na rua Formosa. Para além de Viseu, a manifestação percorreu as cidades de Barreiro, Beja, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Guimarães, Moita, Porto, Samora Correia, São João da Madeira e Setúbal. O objetivo desta manifestação é que a população se junte à luta e dar a conhecer a organização.
Para melhorar as condições de vida da população, o movimento pretende apresentar uma resolução a Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República e ao primeiro-ministro, António Costa. A resolução exige um aumento geral de salários, a fixação dos preços máximos dos bens essenciais, a atribuição de impostos aos lucros especulativos das grandes empresas e a diminuição do IVA no gás e na eletricidade.
“Quem vai ganhar com isto são os senhorios”
Em abril de 2023, António Costa apresentou medidas para combater os efeitos da inflação na habitação, entre elas, a renegociação obrigatória do crédito habitação, a suspensão da comissão de amortização antecipada e o resgate dos Planos-Poupança Reforma (PPR) para pagar prestações do crédito para habitação. Telmo Reis defende que “aquilo que o Governo fez foi encher os bolsos sempre aos mesmos”, ou seja, são necessárias medidas mais eficazes e que favoreçam toda a população.
Uma das faixas etárias mais afetadas pelo aumento do custo da habitação são os jovens. Tiago Simões, estudante universitário na Universidade de Coimbra, revela que as dificuldades atuais são cada vez maiores desde o início da pandemia Covid-19 e da Guerra na Ucrânia, iniciada em 2022.
“O Governo PS tem ajudado os compadrios de sempre”
Telmo Reis critica também a maioria absoluta do Partido Socialista (PS), conseguida nas eleições legislativas em janeiro de 2022, que em nada beneficiou a melhoria das condições de saúde pública, neste caso, o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O representante do Mesmos de Sempre a Pagar em Viseu, reforça que, em contrapartida, os hospitais privados e as grandes empresas são aqueles que mais lucram com o défice de recursos humanos.
“Vamos continuar na luta”
A batalha do movimento Os Mesmos de Sempre a Pagar permanece para alcançar a diminuição do custo de vida em Portugal. De acordo com Telmo Reis, o próximo passo é serem ouvidos na Assembleia da República pelos grupos parlamentares e apelar aos portugueses para continuarem a lutar por uma vida melhor.