Entrevista a Zé Mágico: “Se copiarmos uma pessoa, é uma cópia; se copiarmos 100, somos autênticos”
Conhecido como Zé Mágico, o fascínio deste jovem de 27 anos pela ilusionismo começou num sítio improvável: um acampamento de karaté. O amor pelo teatro lançou bases para a magia que, embora ainda desvalorizada, é um setor que atravessa, segundo o próprio, “os anos de ouro”. Em entrevista para o jornal #dacomunicação, o ilusionista conta um pouco mais sobre quais são as suas maiores influências nesta área e as formas que encontrou para contornar a pandemia.
Por Luciana Soares e Luís Silva
– Quando surgiu o gosto pela magia?
A magia cruza-se no meu caminho aos 14 anos, num acampamento de Karaté onde o “sensei” fazia truques de ilusionismo à volta da fogueira criando estupefação a quem o via. Nós éramos jovens atletas que ficávamos fascinados e, ao mesmo tempo, intrigados por não percebermos como aquilo acontecia mesmo à frente dos nossos próprios olhos.
– Qual/quais é/são a(s) sua(s) maior(es) influência(s) na área da magia?
Tenho muitas, mas as que realmente influenciaram a minha forma de “ser” são poucas, aqui ficam:
Juan Tamariz – Um senhor que tem 79 anos e é considerado o pai da cartomagia e é também um dos homens mais bonitos da sua época. Convido-vos a fazer uma breve pesquisa no Youtube e a deslumbrarem-se com o carisma e a paixão de alguém pela sua profissão.
Dani Daortiz – Também é espanhol e Carto-mágico, discípulo de Juan, um mágico que faz do palco a sua casa, e é conhecido entre mágicos pelas suas atrevidas e loucas propostas de rotinas que, quando explicadas, muitos não acreditam na própria explicação. Muito bom mágico e teórico.
David Williamson – Viajamos até ao outro lado do mundo e vamos até aos EUA de onde é natural o David, conhecido em todo o mundo por ser um mágico-humorista e por quebrar todas as regras e conceitos dentro do ilusionismo. Muito inovador e com um humor único.
Se copiarmos uma pessoa, é uma cópia, se copiarmos, 100 somos autênticos.
– Acha que a magia hoje em dia ainda é vista com aquele encantamento de quando surgiu, ou as pessoas já desprezam um pouco por saber que tudo não passa de uma ilusão?
Falando tendo como base de análise as pessoas que se cruzam comigo, penso que elas não desprezam a magia, talvez possam desvalorizar o que é diferente. No entanto, penso que o ilusionismo neste momento está a atravessar os anos de ouro, havendo mais espetáculos e mais mágicos que nunca. Voltando à pergunta, sempre houve quem quisesse descobrir os truques e outros que apenas querem desfrutar deixando-se deslumbrar, e sempre será assim. O próprio Harry Houdini, no século XVIII, desmascarava mentalistas.
– No seu entender, qual a diferença entre mágico e ilusionista?
Fazem-me sempre essa pergunta, mas, na verdade, não sei qual é a diferença. Podem chamar-me como acharem melhor, mágico, ilusionista ou prestidigitador.
– Como é que se passa da magia para o teatro? Acha que é preciso ter bases teatrais para fazer magia?
Uma excelente pergunta. O teatro sempre esteve presente na minha vida e havia uma ambição de regressar a essa base de trabalho. Nos últimos anos, têm surgido mais oportunidades, e as mesmas têm gerado outras. Assim se passa da magia para o teatro, quando não ambos ao mesmo tempo.
Relativamente à segunda parte da pergunta, a resposta é mais complexa. Não acho que seja fundamental ter bases teatrais, no entanto, mal não faz. Os últimos três Grand Prix (Prémio do Campeão Mundial de Ilusionismo) vêm da escola do teatro. Se fizermos o exercício de atirar um mágico sem acessórios para fazer um truque em palco, o que fica?
– Formou-se em Design de Mobiliário. Como é que se chega a esta área? Ainda exerce?
Na verdade nunca cheguei a exercer. Agora, olhando para trás, este tinha de ser o caminho. Não fazia sentido aos 27 anos tentar ser ilusionista, assim arrisquei como ilusionista profissional deixando a carreira de Designer de lado. Sempre pensei que se um dia quisesse voltar a exercer era possível, já o contrário não.
– De que forma a covid o afetou e que formas é que arranjou para contornar esta situação de confinamento e de grande instabilidade para a cultura?
Foram tempos controversos, de onde começamos a sair aos poucos retomando uma aparente normalidade, houve um atraso nos apoios concedidos pelo Estado, mas acabaram por chegar. O que aconteceu foi que esta pandemia veio destapar a precariedade de muitos trabalhadores da cultura e a falta de políticas reguladoras que nunca existiram, desprotegendo milhares de trabalhadores do sector.
Felizmente, durante os intermináveis confinamentos, tive a oportunidade de realizar alguns espetáculos por videochamada e de reconstruir os espetáculos adaptando-os às regras de higienização e segurança exigidas face à pandemia, que agora fazem parte do nosso quotidiano.
– Participou no Got Talent em 2021. Que portas é que esta participação abriu na sua vida?
Em primeiro lugar, toda a passagem pelo programa foi uma viagem bonita pelas pessoas que se cruzaram comigo e pelo desafio que foi participar. O facto é que com essa participação televisiva tive mais contactos para espetáculos e novas propostas para projetos que vão ainda acontecer neste ano de 2022.
Como dizia Oscar Wilde, “Não há boa ou má publicidade, é publicidade”. Na verdade, não sei se era o Oscar Wilde que dizia isto, ou se tanto a expressão era assim.