Sanfins do Douro, um lar acolhedor e familiar que ultrapassou a COVID-19
A pandemia da COVID-19 afetou muitos setores sociais e os lares não foram exceção. O lar de Sanfins do Douro, no concelho de Alijó foi um dos afetados na região de Vila Real. No dia 20 de outubro de 2020 foi detetado um surto de COVID na instituição. Claúdia Castro, diretora técnica da Associação Cultural e Social de Sanfins do Douro, revela que “ficaram 26 pessoas infetadas”, inclusive ela e acrescenta que em boa verdade ainda hoje lhe custa falar acerca desse assunto.
Reportagem de Marco Sousa
Com toda a questão pandémica, a Associação viu-se obrigada a encerrar portas para as visitas. Com o agravar da situação foi mesmo criado um circuito de forma que os utentes da Estrutura Residencial para Idosos não tivessem contacto com os utentes do centro de dia, que passaram a dispor de todos os serviços nas suas casas. “Não foi fácil nem para os nossos utentes nem para os seus familiares, nunca um simples abraço, um simples toque, um beijinho, fez tanta diferença”, afirma Claúdia Castro.
A diretora técnica da associação revela ainda que esta foi uma fase terrível para a mesma e que, quando receberam as indicações da Segurança Social para encerrar as visitas, pensaram que seria algo temporário “e que tudo voltaria à normalidade num instante”. Com o avançar do tempo, o lar criou mecanismos para que os familiares e os utentes pudessem manter contacto, “com todas as medidas de segurança”, de modo que os utentes pudesse manter contacto com os seus familiares, revela Cláudia Castro. Quando não existia a possibilidade de os familiares se deslocarem até às instalações, “eram feitas videochamadas ou telefonemas para que ambas as partes comunicassem”, diz a diretora técnica da associação.
Apesar de todas as medidas de segurança e protocolos, a associação foi afetada por um surto, no qual se detetaram 26 casos positivos entre utentes e colaboradores. “Foram horas de desespero”, afirma Claúdia Castro, que apesar de ser uma das infetadas revela ter tido como principal preocupação gerir todo o serviço e coordenar os colaboradores que não foram afetados. “Metade da minha equipa técnica não ficou infetada, o que ajudou imenso, pois coordenavam todo o trabalho no terreno” e Cláudia Castro “a partir de casa coordenava toda a logística” revela.
Para a profissional, a pior parte do surto foi mesmo ter de lidar com toda a comunicação social, que cobria o acontecimento e sobretudo ver os utentes a saírem da instituição, “da sua casa para ir para outro sítio que não lhes era familiar, mas teve que ser, era a única forma de os proteger”. Tudo acabou da melhor forma e “ficam apenas as marcas de dias muito maus”, que serviram também de lição para a diretora técnica e toda a associação.
Com uma associação que dá resposta a várias valências, algo que para Cláudia Castro fica aquém das expectativas são os apoios financeiros do estado. “Os apoios atribuídos às Instituições Particulares de Solidariedade Social em relação às suas despesas ficam muito aquém, não é fácil, tem que haver uma gestão muito controlada”, revela a diretora. A pandemia da COVID-19, veio agravar ainda mais as dificuldades financeiras, com o encerramento temporário das respostas sociais do Centro de Dia, Creche e Pré-Escolar. Houve um acréscimo na necessidade de ter um controlo rigoroso sobre as contas. Cláudia Castro defende ainda que o governo deveria valorizar mais os seus apoios às IPSS’S e que “deveria repensar nos modelos de cooperação, de modo que os financiamentos sejam suficientes para assegurar todo o trabalho desenvolvido nas respostas sociais”. Este aumento de financiamento permitiria a contratação de mais recursos humanos que são necessários na visão de Cláudia Castro para a melhoria do funcionamento dos serviços e assim aumentar a qualidade dos mesmos.
A Associação Cultural e Social de Sanfins do Douro dispõe atualmente de cinco valências. Cada uma destas áreas de resposta social dispõe de um técnico responsável, de modo que haja um trabalho de maior proximidade, quer com os colaboradores da associação quer com os seus utentes. Cada técnico vai gerindo todo o trabalho do dia-a-dia de cada resposta social, mas sempre em articulação com a diretora técnica da associação.
A COVID-19 fez com que houvesse a necessidade de reestruturar e isolar as equipas de cada resposta social. “Nas respostas sociais jovens existem duas educadoras de infância, três Auxiliares de Ação Educativa e um Auxiliar de serviços Gerais”, diz Cláudia Castro. Esta valência, na qual se integra a creche e o pré-escolar funciona de segunda a sexta das oito da manhã até as dezoito horas.
Outra das valências que o lar dispõe é a Estrutura Residencial para Idosos (ERPI), que funciona durante 24 horas por dia. Com uma equipa multifacetada composta por auxiliares de ação direta e auxiliares de serviços gerais, a ERPI dispõe de 17 camas, sendo apenas duas delas não comparticipadas pelo estado. “É um lar bastante pequeno, mas muito acolhedor e familiar, pois o facto de serem poucos utentes permite desenvolver um trabalho de maior proximidade e criar laços afetivos”, refere Claúdia Castro.
O encerramento do Centro de Dia, devido à pandemia fez com que o Serviço de Apoio Domiciliário ficasse subcarregado, “com uma enorme missão de prestar cuidados aos utentes, combatendo o isolamento social e a solidão”, diz a diretora técnica da associação. “O serviço de apoio domiciliário é uma resposta social que consiste na prestação de cuidados individualizados e personalizados no domicilio”, afirma Ana Portugal, diretora técnica dos serviços de apoio domiciliário. Estes serviços visam também a promoção da autonomia dos utentes e a prevenção de situações de dependência ou mesmo o seu agravamento. “Conforme a necessidade de cada utente, elabora-se um plano de intervenção” revela Ana Portugal. Os Serviços de Apoio Domiciliário fornece diversos serviços, como o fornecimento de refeições, o tratamento de roupas, cuidados de higiene e conforto, bem como a higiene habitacional, entre outros. “Um dos principais objetivos do apoio domiciliário é contribuir para a permanência dos utentes nos seus domicílios, retardando ou evitando a institucionalização na ERPI”, declara Ana Portugal.
Gerir tantas valências numa zona tão envelhecida de Portugal é algo que não se revela por vezes fácil, sendo que a situação pandémica que o país ultrapassa é mais uma agravante. “Nas grandes periferias existe um leque de respostas mais diversificadas do que em meios pequenos”, afirma Cláudia Castro. Para a diretora técnica, a melhoria destes recursos passa pela inovação e criação de novas respostas para situações excecionais que permitam a promoção da qualidade de vida e bem-estar dos idosos e jovens que a associação abrange. Apesar de a associação se ter candidatado a diversos projetos para a melhoria das suas respostas e criação de novas valências, ainda não lhes foi atribuída nenhuma, “o facto de ser uma comunidade relativamente pequena não gera tanto impacto como uma zona de maior incidência”, motivo pelo qual Cláudia Castro acredita que ainda não tenha sido possível receber estes apoios.
As parcerias têm sido algo bastante importante para a associação, tendo como principais parceiros as entidades locais, “nomeadamente os Bombeiros Voluntários de Sanfins do Douro, a Junta de Freguesia de Sanfins do Douro” e o Município de Alijó através do Conselho Local de Ação Social, revela a diretora técnica da associação. Para além das parcerias já estabelecidas, a associação encontra-se aberta a todas as parcerias que possam beneficiar, pois para Claúdia Castro, “o trabalho em rede é fundamental para que se criem respostas que permitam uma intervenção mais eficiente nas problemáticas diagnosticadas”.
A Associação Cultural e Social de Sanfins do Douro, foi fundada em 15 de março de 1985, tendo desde então prestado diversos cuidados a toda população Sanfinense e das aldeias e vilas em redor. Apesar da situação pandémica ter complicado o trabalho à associação os colaboradores mantêm-se confiantes e com vontade de ajudar a sua população da melhor forma possível. Para Claúdia Castro, o mais gratificante deste trabalho é o sorriso dos utentes, algo que a diretora técnica e a sua equipa trabalham diariamente para receber.