O preço de ser mulher

Por Kevin Santos

O parlamento escocês aprovou uma lei para que os produtos de higiene íntima feminina, como os tampões e os pensos higiénicos, sejam disponibilizados gratuitamente.

A Escócia torna-se, assim, no primeiro país do mundo a aprovar a “Lei dos Produtos para Período” e as autoridades locais devem, agora, proceder ao combate à ‘pobreza da menstruação’, que afeta várias mulheres com dificuldades em comprar os produtos de que necessitam.

Fiquei perplexo ao ler esta notícia. A realidade deu-me uma enorme ‘chapada’. Como é que nunca pensei nisto? E como é que, numa época em que se debate tanto a igualdade de género, quase não se fala disto? Ser mulher não só é mais difícil, mais desafiante e mais doloroso, como é, também, mais caro. As mulheres continuam a ser vistas como o lado mais fraco, continuam a receber menos que os homens e têm de pagar por… ser mulher. 

A decisão dos escoceses é um grande passo rumo à igualdade de género, estão a “mudar a cultura”. O próximo passo será a replicação, por parte de outros países, desta atitude. O Reino Unido promete seguir a ‘onda’ e a União Europeia já anunciou que irá remover os impostos sobre a venda destes produtos em 2022 e, nessa altura, caberá aos governos de cada país decidir o que fazer quanto a este assunto.

A menstruação não é uma escolha e, portanto, os produtos de higiene feminina devem ser vistos como bens essenciais. Trata-se de uma necessidade fisiológica, tal como a fome, a sede ou o sono, por exemplo. E é assim que deve ser vista. Como poderá haver igualdade de género quando uma mulher tem de pagar para o ser? Milhões de mulheres têm de lidar com a falta de condições económicas para aceder a estes produtos e com o preconceito em relação à menstruação. Ou seja, não falamos apenas do valor económico. Falamos também do preço a pagar porque se trata de um tema tabu. As publicidades são inexatas e longe da realidade, as mulheres escondem a menstruação… e o preconceito em relação à menstruação chega, inclusive, a matar – o caso de uma jovem queniana que se suicidou, depois de ser gozada pelos seus colegas por estar com o período.

É urgente a desmistificação da menstruação. É necessário mostrar, a homens e mulheres, que o período é normal e que deve ser mostrado como ele realmente é. Não acredito na igualdade de género, não passa de uma ‘utopia’. Acredito que temos, sim, de adaptar o sistema às necessidades de cada género. A Escócia mostrou como se pode fazer algo neste sentido, mas não é só com a menstruação que a mulher gasta, obrigatoriamente, dinheiro. Soutiens, cuecas, depilações, as unhas, o cabelo, a pele… Enfim, uma vasta lista de ‘necessidades’ com que os homens não precisam de se preocupar. As mulheres, com ou sem menstruação, gastam mais porque nasceram mulheres. Então, se assim é, as mulheres não deviam receber tanto quanto os homens. Deviam receber mais.


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