“Uma cabeça, um coração e muitos corpos”

A DNA – Dance N’Arts School é uma Escola de Artes em Coimbra, onde profissionais com décadas de experiência e provas dadas nacional e internacionalmente integram várias modalidades artísticas, desenvolvendo competências transversais. Embora o enfoque primordial incida sobre a área da Dança (Ballet, Dança Jazz e Dança Contemporânea), o projeto abre portas ao ensino da música (canto e instrumentos), e de áreas mais abrangentes que se relacionam com o crescimento individual e o bem-estar, tais como o Yoga, Hip Hop e Ginástica de Manutenção.

A DNA é um projeto com três anos e surgiu de cinco mulheres que tinham um gosto em comum, a dança. É uma escola que tem alunos desde os 3 anos até aos sessentas, não havendo uma idade limite.

Teresa Gouveia iniciou os estudos de ballet clássico em 1977, e é professora de ballet no DNA. Existe uma superação diária e os alunos conseguem conciliar a dança com a escola com muito esforço e dedicação, e isso reflete-se no reconhecimento que a escola tem vindo a conquistar. “Os desafios são constantes e diários, é tornar todos cada vez melhores levando-os aos seus limites. Trazer tudo o que eles têm de bom cá para fora, melhorar e fazer deles uns alunos fantásticos. A escola já é uma escola conotada no estrangeiro, temos alguns alunos que têm ganho prémios a nível internacional e aos poucos temos vindo a ser uma das escolas de referência pelo menos a nível europeu, sem dúvida e quando o esforço e o trabalho são reconhecidos é maravilhoso. É sinal de que tudo resultou, que todo o trabalho que nós tivemos até este ponto não foi em vão e teve resultados e obteve frutos”, afirma Teresa Gouveia.

A dança, em particular o ballet, é uma atividade física tal como outra qualquer, benéfica para o desenvolvimento de qualquer criança, seja esta, rapaz ou rapariga. A professora do DNA revela que, apesar de os tempos estarem a mudar e as mentalidades começarem aos poucos a ficar um bocadinho mais avançadas, ainda existe algum preconceito. “Tem-se visto alguns progressos a esse nível, pelo menos em relação aos alunos que aqui andam já não sinto que sejam tão gozados na escola e em espaços fora do DNA. Contudo penso que daqui a uns anos as coisas já vão estar muito mais aceites”, realça.

Para Teresa Gouveia, o preconceito vem de fora das academias. “Nomeadamente com os colegas das escolas onde andam a trabalhar a parte académica e ás vezes nos pais, no elemento paterno principalmente. São muitos preconceituosos em relação ao facto de os filhos andarem no ballet. Não os que eu tenho aqui na escola porque senão, também não andavam cá como é óbvio”, diz.

Para a bailarina Catarina Cardoso, a dança é uma liberdade e uma felicidade extremas. “Há dias em que venho para o DNA e liberto-me de tudo o que corre mal na minha vida, liberto-me de todas as preocupações e todos os meus medos e deixo de ser simplesmente eu. Posso limpar a minha cabeça, posso relaxar. Há dias em venho para cá e sinto frustração quando nem tudo corre bem, porque também há dias assim”, afirma.

A aluna do DNA diz que a dança é uma das coisas que lhe dá mais prazer e descreve-a como “a maneira através da qual eu consigo conjugar o meu gosto imenso pela arte, mas também o meu bem-estar físico e mental”. Ainda assim, Catarina Cardoso não imagina a dança como uma profissão. “É uma parte importantíssima da minha vida, mas o meu futuro não será de todo ser bailarina. Contudo o ballet ajudou-me imenso a desenvolver-me enquanto pessoa, portanto independentemente da minha profissão, a minha vida será sempre marcada pelo ballet e pelos anos que aqui passei”, afiança.

Para Catarina Cardoso, o DNA distingue-se pela diversidade e união, sendo que esta aluna considera que os elogios e reconhecimento que têm vindo a ganhar são o reflexo de todo o trabalho feito. “Aqui no DNA nós somos uma família, muito unida e muito forte e é por isso que as coisas resultam tão bem. As nossas coreografias de grupo têm ganho inúmeros prémios a nível internacional porque nós dançamos como uma só, uma cabeça um coração e muitos corpos”.

Catarina continua: “O nosso trabalho individual é reconhecido praticamente todos os dias quando nos corre bem, quando conseguimos acertar naquele passo que não conseguíamos e que andamos muito tempo a trabalhar. Mas quando vamos lá fora, quando vamos a uma competição e somos reconhecidas e elogiadas, isso ainda faz com que isto valha mais a pena. Estar em cima de palco embrulhadas na bandeira de Portugal com uma medalha de ouro ao peito é uma das sensações que eu guardo com mais carinho porque é sem dúvida um culminar de todo o nosso trabalho e todo o nosso esforço, e tudo aquilo que abdicamos para estar aqui. Para apresentarmos o melhor que podemos”, remata.

Diogo quer ser bailarino profissional e vai para o DNA treinar todos os dias, na área da dança clássica e contemporânea. Confessa que ainda há algum preconceito em relação aos bailarinos, mas a paixão e a garra pela dança são superiores.

“Não há tantos bailarinos como bailarinas, porque foi uma ideia errada que se foi formando ao longo dos tempos de que a dança é para as raparigas. Ainda há algum preconceito. No DNA é tranquilo, mas quando eu era mais novo sofri um bocado com isso, porém nada me parou e continuei a dançar. É ao dançar que me consigo expressar e acima de tudo sinto-me feliz, e já me habituei em ter mais colegas meninas do que meninos”, diz o jovem bailarino.

Margarida Baptista frequenta a academia desde a sua criação. Solista de ballet contemporâneo, a bailarina participa também nas coreografias de grupo dedicando muitas horas à dança. “Confesso que conciliar a escola com a dança não é fácil, mas acredito que, quando se quer, tudo é possível. Estou no 11.º ano, sou solista e venho à DNA quase todos os dias e acho que é completamente possível fazer tudo. É a paixão que me move e que me dá forças para arranjar tempo para tudo.”

Estes jovens acabam por passar muito tempo juntos e, como tal, a união dentro do DNA é notória. “O DNA tem uma componente de amizade e família. Nós somos todas muito ligadas umas às outras e conseguimos estabelecer uma relação entre todas através da dança, acho isso muito importante. Nós estamos todas em competição umas com as outras, mas acho que para além disso nós temos uma relação muito forte. Há uma entreajuda incrível, e conseguimos unirmo-nos como uma família e sermos todas irmãs umas das outras. Sinto que as minhas colegas são as irmãs que eu não tenho, e criamos uma relação muito forte ao longo dos anos”, diz Margarida Baptista.

A solista defende que toda a gente tem direito a usufruir da arte independentemente do seu género, e haver rapazes na dança é uma virtude. “Acho que o preconceito em relação aos bailarinos é algo que não é muito divulgado. Rapazes bailarinos ainda é assim uma coisa muito distante, parece que se vai concretizar num futuro muito distante. Mas isso é não é uma verdade. É uma mentira bastante clara, os rapazes fazem ballet e isso é uma virtude. Não tem de haver um preconceito em relação a isso e é uma falta de informação que faz com que isso aconteça. Toda a gente tem o direito de usufruir da arte independentemente de ser rapaz ou rapariga”.

Com apenas 11 anos, Sofia Rosado já conquistou prémios em várias competições nacionais e internacionais. Tem o sonho de ser bailarina profissional e revela o que faz antes de entrar em palco e o que sente quando vê notícias sobre o seu trabalho.

“Para mim a dança é realmente uma arte porque como qualquer uma das outras expressa o que nós estamos a sentir. Antes de entrar em palco eu faço questão de rezar um Pai Nosso, sempre me deu mais confiança principalmente em atuações grandes. Quando vejo alguma notícia sobre mim é muito estranho. Sempre olhei para as pessoas que apareciam no jornal como super-heróis, como ídolos e de repente estou lá. Ver-me no jornal é uma sensação: eu cheguei lá, eu consegui, e às vezes fico um bocadinho envergonhada”, relata.

Zélia Alves é funcionária no DNA e adora trabalhar com crianças. É ela quem as encaminha para os estúdios, as ajuda a vestir e a arranjar os cabelos, entre muitas outras coisas. Para esta funcionária, os alunos com quem lida diariamente são um grande orgulho e confessa que também ela se sente nervosa quando os mesmos sobem a palco.

“O facto de trabalhar com as crianças acho que me faz sentir mais jovem, porque elas acabam por nos transmitir uma alegria imensa. Para mim é um orgulho muito grande quando elas são reconhecidas. Quando elas vão para competições faço questão de estar atenta para ver se elas ganham ou não. Para mim é um orgulho imenso, porque a maior parte dos alunos passam aqui muitas horas por dia. Confesso que me sinto nervosa quando elas vão para competições e estou sempre a torcer por elas. Todas elas têm muita garra, por exemplo, mesmo que não ganhem, elas no dia a seguir estão a batalhar e a trabalhar para a próxima competição. Levantam a cabeça e seguem em frente”, sublinha Zélia Alvez.

Horários difíceis e sacrifícios

Para as famílias também os horários são difíceis de gerir. Ilda Costa, mãe da aluna Catarina Cardoso, admite que todos os sacrifícios que os pais fazem são recompensada com a felicidade que as alunas sentem e transmitem em palco.

“O facto de terem horas marcadas para ir para o ballet ajuda-as a não desperdiçar tempo, e quando elas querem conseguem ter tempo para tudo, para a escola, para o ballet, para os amigos, ou simplesmente para não fazer nada. Para as famílias é um bocado mais complicado, pois há sempre horas para começar nunca há horas para acabar. E quando temos em conta de a aula durar uma hora dura três, e os jantares vão atrasar, as idas para outras atividades são canceladas, mas é assim, a felicidade com que elas saem do ballet, e entram em palco acaba por compensar todos estes sacrifícios que nós temos de fazer”, considera Ilda Costa.

“Para nós pais, é sempre um reconhecimento muito grande, porque temos vindo a acompanhá-las desde pequeninas e nota-se uma evolução de ano para ano que traduz o trabalho intensivo que elas têm durante o ano. Ficamos sempre babados com aquilo que vemos, conforme elas vão crescendo as exigências são maiores e as coreografias tornam-se também mais bonitas. Quando estão em palco, transmitem-nos a nós a felicidade completa daquilo que estão a fazer”, acrescenta a mãe da bailarina, reconhecendo que a filha é feliz no ballet e que é uma coisa que a faz sentir bem.

“A Catarina é feliz no ballet, e anda lá porque é uma coisa que a faz sentir bem. A regra lá em casa é sempre: vai continuar no ballet até ao dia em que sinta bem lá, independentemente dos resultados que tenha ou não. No dia em que ela deixar de se sentir bem, vai deixar o ballet garantidamente, mas isso vai ser ela a decidir. Nunca pensando em termos de prémios nem de competições porque não é esse o objetivo com que ela anda no DNA”, salienta.

Catarina Cardoso defende que o DNA se distingue “pela diferença entre as pessoas. Temos todo o tipo de pessoas e todo o tipo de objetivos. Existem aqui pessoas que querem ser bailarinas profissionais, temos pessoas a fazer ballet pela primeira vez quando já são mães, temos muitos tipos de dança diferentes e além disso temos a oportunidade de todas as pessoas se encontrarem e se exprimirem de maneira diferente e fazerem o que mais gostam”.

A Escola de Artes envolve-se em várias competições, nacionais e internacionais. Festival Internacional de Dança Tanzolymp; Dance Wordl Cup; VIBE – Vienna Inetrnational Ballet Experience; YAGP (Youth America Grand Prix), Dançarte – competição anual de dança que acontece em Faro; Got Talent Portugal; CIB – Concurso Internacional de Bailado do Porto e o Leiria Dance Competition são algumas das muitas apresentações a que a DNA se propõe.

Dia 9 de Julho irá realizar-se o III Summer Course da DNA, onde o público terá a oportunidade para experimentar disciplinas, aprofundar técnicas, contactar com professores especialistas e preparando assim o próximo ano letivo.

 

Texto e imagens: Maria Inês Gonçalves

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