Do silêncio das garrafas ao eco das histórias femininas
Um espaço de apresentação, discussão e preservação de memórias, representado por diferentes classes sociais, várias gerações e com diversas histórias. Falamos do Museu da Mulher Duriense, um espaço que retrata a consciência da opressão, da violência e do silêncio, mas também a esperança pelas conquistas na sociedade. Este local origina um pensamento crítico sobre o que é ser mulher.
Por: Ana Margarida teles e Constança Almeida
Museu da Mulher Duriense distingue-se pelo significado que dá à mulher. Localizado no meio do Alto Douro Vinhateiro, na região de Armamar, conhecida pelos seus produtos agrícolas. Apesar de ser uma terra produtora de maçãs, procura ter um pouco mais.
Aberto ao público desde 6 de julho de 2023, criado na antiga Adega Cooperativa de Armamar, no museu descobrem-se testemunhos de mulheres que fazem parte desta região e que defendem a sua identidade.
Criação do espaço
Claúdia Damião, vereadora da Câmara Municipal de Armamar e mãe do projeto, refere que a criação deste espaço serviu para “fazer história” e honrar o papel da mulher.
O espaço está dividido em setores diferenciados. Na entrada existe uma instalação audiovisual que convida os visitantes a escutar os testemunhos das mulheres durienses, histórias de infância, do trabalho árduo nas vindimas e a luta pela igualdade. No outro lado da sala, dentro das cubas, utilizadas para armazenar o vinho, observa-se, em miniatura, o cotidiano das pessoas, a escola, o trabalho e as festas populares. No meio, encontra-se várias imagens e vídeos de mulheres de todo o mundo, de quando foram votar pela primeira vez e dos trabalhos que realizavam no campo. Também existem três cúpulas que dão aos visitantes uma forma diferente de sentir, encontrar e descobrir histórias. Para ter uma experiência imersiva e dinâmica o público entra numa sala escura e utiliza lanternas para encontrar o poder das palavras escondidas que refletem o conceito do museu.

Papel da mulher
Uma das mulheres mais emblemáticas desta zona foi Antónia Adelaide Ferreira. Conhecida como Ferreirinha da Régua, Adelaide Ferreira deixou um legado no mundo da vinicultura. Afirmou e valorizou o vinho como um produto e ajudou a vencer crises epidémicas como a filoxera, um pulgão que ataca as raízes e mata a planta.

“A menina que se tornou mulher”
Local antes dedicado ao vinho tornou-se agora um palco para vozes femininas, entre exposições, testemunhos e memórias.
Experiência
Humanizada pela Câmara Municipal, esta ideia integra colaboradores do município que fazem parte da partilha destas histórias. Depois da criação e da divulgação da imagem, o museu encontra-se nos primeiros cinco lugares no ranking dos museus do Douro, pois ao fim de cada ano têm de mostrar números e resultados. O público que visita o museu é maioritariamente português e população local, mas a organização do museu quer dar um passo em frente, como refere Sofia Teixeira, colaboradora do museu.
Estas experiências levam a sociedade a vivenciar os testemunhos na primeira pessoa, demonstrando as dificuldades que as mulheres tinham na sua vida pessoal e profissional. O projeto tem como testemunhos “mulheres empresárias, pessoas ligadas à cultura, ao desporto, à religião, à educação e as que desempenharam papéis numa sociedade de liderança. Fomos recolhendo os testemunhos e consultámo-las para perceber as dificuldades de ser mulher, como é ser mulher nesta região e no fundo que expectativas tem para a sua própria valorização”, afirma Cláudia Damião.
Sofia Teixeira afirma que um dos conceitos importantes para este museu é a igualdade de género.

O que significa ser mulher
Reconhecida a voz mãe deste projeto, Claúdia Damião diz o que é ser mulher nos dias de hoje.
O Museu da Mulher Duriense é mais do que um lugar de visita, é um local de aprendizagem e valorização da mulher. Numa sociedade em que não há igualdade de género, este museu ajuda a relembrar e homenageia quem lutou e luta por esta mudança.
Armamar afirma-se como uma terra que honra o passado e demonstra esperança no futuro. É perceber que por detrás de cada garrafa de vinho, da doçura de cada maçã há histórias de mulheres que lutaram no silêncio dos que sempre tiveram voz.

“Não é para a tornar superior, é para a tornar igual”
O Douro revela uma dimensão feminina que agora tem mais voz, pois este museu serve para dar atenção a quem não foi ouvido, para aprender com quem sempre soube, mas nunca teve quem lhe perguntasse.