RCI, a rádio que valoriza a região de Viseu

Resiliência, união e alegria são caraterísticas que definem a Rádio Clube Interior. Com um percurso longo que remonta ao auge das rádios piratas, a RCI surge como “fruto de uma grande paixão, abrangente e independente”. Detentora de uma reputação invejável na cidade de Viseu, esta rádio sempre procurou distanciar-se do “poder local”, no sentido de preservar a qualidade da informação.

Reportagem de Luís Silva

RCI nasceu no início dos anos 80

Estávamos no ano de 1983, em pleno período de funcionamento, em Portugal, das rádios piratas ou, como muitos gostam de lhes chamar, “rádios livres”. A inexistência de uma lei que regulasse a radiodifusão permitiu a dois irmãos, que partilhavam o amor pela rádio e pela comunicação, que construíssem as bases do que é hoje a conhecida como Rádio Clube Interior, ou RCI. Rui Chaves, locutor de rádio nesta estação, esclarece que o arranque foi feito tendo apenas “as bases primárias de rádio”. “Primeiramente, investiram em gira-discos/discos vinil em LP de 45 rotações e single de 33”, completa. A partir de 1986, o radialista deu início, a partir de casa, à transmissão diária de “discos pedidos”.

Rui Chaves, locutor na RCI

No entanto, foi em 1988 que o governo português decidiu pôr fim a todas as rádios que emitiam de forma ilegal. Esta lei veio obrigar a uma reestruturação no seio da RCI, em nome da sua sobrevivência. Deste modo, o primeiro passo para a legalização desta rádio foi a emissão a partir de um estúdio no centro da cidade de Viseu, na frequência 104.8 FM. “Construiu-se a rádio na rua do Comércio, mais propriamente no interior do centro comercial Ecovil, onde comecei a trabalhar diariamente”, conta o locutor de rádio. Mais tarde, surgiu um segundo centro emissor, em Fornelo do Monte, na Serra do Caramulo, que emite na frequência 105.5 FM. Em conjunto, estes dois estúdios emitem para toda a zona centro do país.

O pluralismo político é garantido, razão que justifica a grande quantidade de ouvintes que esta rádio regista. Rui Chaves refere que a RCI “é qualificada como uma rádio local independente” e, a seu ver, a estação nunca sofreu qualquer tipo de pressão política ou económica. A emissora, que conta também com uma página online e um serviço de streaming para todo o mundo, desde 2003, é a rádio “mais conhecida e qualificada de Viseu” e assume a liderança das audiências na cidade. “[A RCI] Alcança um público de todo mundo (emigrantes, principalmente) e de uma faixa etária diversificada”, realça o radialista.

A singularidade de uma programação diversificada é o segredo que explica a posição privilegiada que a RCI ocupa a nível regional. Carolina Santos, assistente técnica da estação, afirma que a rádio é generalista, com conteúdos que vão desde a saúde, à mecânica automóvel e a espaços de apoio ao consumidor, mas, acima de tudo, a Rádio Clube Interior pauta-se por uma programação participativa. “Além da possibilidade dos nossos ouvintes contactarem com a rádio, possuímos vários profissionais que facilitam ao público a oportunidade de interação e de partilha das suas ideias e sabedoria”, explica.

Em especial destaque surge o programa “Linha do Horizonte”, transmitido todos os sábados das 21 às 23 horas, onde para além das músicas calmas, os ouvintes têm total liberdade de participação. “O nosso público contacta-nos, maioritariamente, por Whatsapp. Através da aplicação, enviam-nos áudios com as suas vozes citando poemas e frases”, acrescenta Carolina Santos. Esta confessa ainda ser uma “ajuda imprescindível” ao locutor Rui Chaves. “Devido à grande quantidade de participação, sou o braço direito do meu colega. Começo por organizar as mensagens por ordem de chegada, giro o tempo entre as músicas, as citações dos poemas e das frases”, salienta.

“Dois dedos de conversa” é a rubrica que nos últimos tempos mais tem chamado à atenção dos ouvintes da RCI. Com a participação das enfermeiras Catarina Saraiva Martinho e Cesaltina Rodrigues, que dão conselhos relativos a questões de bem-estar. “Como vivemos em tempos controversos no que toca à saúde, os nossos ouvintes cada vez mais têm a curiosidade e até mesmo a necessidade de acompanhar todos os novos temas semanais”, finaliza a assistente técnica.

Catarina Saraiva Martinho e Cesaltina Rodrigues

Realizada anualmente entre agosto e setembro, a Feira de São Mateus, em Viseu, é o evento que mais exige trabalho e empenho por parte da Rádio Clube Interior. “Desde que existe, a RCI faz sempre a cobertura da Feira de S. Mateus, desde o dia de inauguração até ao último dia”, afirma Rui Chaves. Com reportagens diárias e entrevistas para dar a conhecer aos viseenses as novidades daquela que é a feira franca mais antiga da Península Ibérica. Uma rádio que faz questão de não se esquecer dos emigrantes. “Há sempre reportagens todos os dias e vídeos em direto na página do Facebook para que os emigrantes possam ver o ambiente da Feira”, revela o locutor de rádio.

Motivada pela pandemia, a RCI viu-se obrigada a adaptar-se à nova realidade da covid-19, tendo sido implementadas medidas específicas que assegurassem o seguimento da programação. “Transferimos os nossos equipamentos essenciais para as nossas casas, sendo emitido por teletrabalho”, confessa Rui Chaves. Também o jornalismo de proximidade foi afetado com a impossibilidade de deslocação até aos locais de reportagem ou entrevista. “Atualmente, comunicamos com os mesmos, sobretudo, através da grande plataforma de streaming que nos dá a possibilidade de transmitir mais realismo aos nossos ouvintes”, assegura o radialista.

Considerada a “única estação de Viseu”, a RCI  destaca-se das demais não só por ser a única com licença e, por isso, uma rádio oficial, mas também pela diversidade de programação que oferece aos seus ouvintes e pela proximidade que estabelece com estes.

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