10 anos de carreira por trás do scratch vanguardista
Entrevista ao DJ Ride, campeão mundial em 2011 como Beatbombers (com Stereossauro), scratch avantgardist, DJ, designer de som e produtor. Ride é uma parte inerente da cena e uma referência na música urbana
Ganhou vários títulos internacionais nos últimos 5 anos, parte de um currículo bastante invejável. Todo este sucesso funciona como um impulso ou cria ainda mais pressão?
As duas coisas, porque sou uma pessoa ambiciosa q.b e chegas a um certo patamar onde, por exemplo, os prémios das competições acabam por ser um grande vício. Já fiquei em todos os lugares, desde o último ao primeiro, mas, acima de tudo, no primeiro tenho sempre vontade de repetir. E depois a pressão existe porque vais evoluindo e isso também faz com que pises o palco de outra maneira. E depois pensas “eu agora tenho que fazer melhor do que ontem”, mas isso é a base para o trabalho e para estar sempre atualizado também. No fundo lido bem com isso.
Tem feito várias participações com bandas, tanto ao vivo como em disco. É uma experiencia enriquecedora?
Sim, porque no início a parte de dj veio um bocado por acréscimo. Eu considero um dj convencional alguém que se baseie, principalment,e na produção e se me perguntarem o que sou primeiro eu digo: “um músico experimental, depois scratch (alguém que usa o gira discos como instrumento) e depois disso dj”. É engraçado que a maior parte das pessoas dizem-me “ah o teu concerto foi muito fixe”, ou seja, não dizem “set”, porque sabem que eu faço muita coisa em cima do palco. Tenho o pc, o sampler, remixes em tempo real, passo scratchs, passo música minha, etc. Acaba por ser um pouco um live act e isso é engraçado, porque não faz muito sentido, nem me estimula estar em cima do palco durante duas horas a acertar batidas. Respeito isso, mas como sou o “nerd” das máquinas gosto muito mais de estar a manipular e a fazer o máximo de coisas possíveis. Às vezes é um bocado confuso, mas é o que eu tento fazer.
Existem muitas pessoas que consideram que, nos dias de hoje, em Portugal, ser dj é uma coisa muito fácil. O que é que acha desta forma de pensar de algumas pessoas?
Ser dj é fácil, ter uma carreira como dj, em Portugal, é totalmente diferente. Nos dias de hoje os miúdos podem ir ao Youtube e ver o set do seu ídolo e fazem igual com um programa para dj’s, mas acabam por ser mais um. Ter uma carreira, ter uma entidade, construíres a tua cena e um circuito é, sem dúvida, um campeonato totalmente diferente. Mas sim, é verdade que agora qualquer um é dj: sacas um programa pirata, já tens mp3, um software que te acerta as batida, e pronto, é canja. O problema aqui é seres produtor e fazer algo diferente, aí sim, requer muito tempo e muitos ensaios e muita teimosia também.
Como é que define a noite em Portugal?
Marada, (risos) muito marada. A noite já foi muito específica, já foi dominada apenas por dois ou três estilos, como house, techno, e pouco mais. Há uns anos abriram-se muitas portas a um circuito completamente diferente, pois antes era impensável haver drum, dubstep, e hip hop no mesmo palco ou no mesmo festival. O pessoal mais novo ouve coisas totalmente diferentes e desperta mais estilos, enquanto que há uns anos atrás ou só eras do punk, ou do harcore, ou do house ou eras só hip hop. Basicamente era tudo muito mais limitado e não havia esta mistura tão grande, por isso é brutal, neste momento, porque podes ir a um festival e consegues ouvir muitos estilos diferentes. Quanto ao meu estilo, acho que é das melhores alturas de sempre a nível de musica eletrónica. Mas se falarmos em house, se calhar é diferente, porque já não há sítios que passam aquele house puro. Ok, tens a Lux, mais um ou dois sítios e pronto. Em certos sítios estão agora a passar uma fase má, mas no meu estilo concreto, que é o hip hop e a musica urbana, acho que está em alta.
Ana Formigo
Imagens: Rita Carmo e FreeImages.com/lorenzo Novia