“O ramo da restauração não é fácil e consome muito tempo”
Num país onde setores como a restauração e a hotelaria enfrentam uma escassez crónica de mão de obra, a imigração tornou-se o pilar essencial da economia e da vida social. Vindos do Brasil, de Angola, da Índia ou de Cabo Verde, milhares de imigrantes chegam a Portugal em busca de oportunidades, estabilidade e dignidade.
Por: Adriana Moita e Mariana Santos
É ao som de kizomba, funaná e kuduro que Arlinda Antunes, cozinheira e proprietária do restaurante Vale Velho, no Coto, Caldas da Rainha, começa as preparações na cozinha para abrir as portas do restaurante.
Arlinda é cabo-verdiana e reside em Portugal há 21 anos, mas a história ligada à restauração vem desde o continente africano. Devido à falta de oferta de trabalho a cozinheira fritava peixe, fazia pastéis, aguardente e vendia aos locais. Segundo a proprietária, sempre disse que um dia ia ser cozinheira.

Em 2004, rumou até Portugal, à procura de uma vida melhor. Durante 8 anos trabalhou como empregada interna, cuidando da casa dos patrões: «Eu cozinhava, lavava a roupa, passava a ferro, tomava conta das crianças, ia pô-los à escola…» contou Arlinda Antunes. Ainda assim, a cabo-verdiana afirma que foi fácil arranjar emprego e que sempre gostou de trabalhar.
Arlinda Antunes conhece José Santos, chefe de cozinha e comerciante no ramo hoteleiro, que a convida a trabalhar no restaurante à noite enquanto de dia continuava nas limpezas.
Quando regressa de férias dedica-se a tempo inteiro ao trabalho na restauração até que surgiu a oportunidade de ser proprietária de um estabelecimento. Com a ajuda de várias pessoas, hoje Arlinda Antunes é proprietária do restaurante Vale Velho.
O chefe de cozinha, com 35 anos de experiência na área, realça o potencial, a dedicação e a evolução que Arlinda demonstrou para trabalhar na restauração e ajudou-a a lançar-se neste ramo. «Tem sido uma experiência muito boa e ela está muito acima daquilo que eu pensava», afirma José Santos.

Arlinda Antunes abre as portas do restaurante a todos aqueles que queiram mesmo trabalhar. «O ramo da restauração não é fácil e consome muito tempo. Uma pessoa vem para a restauração tem de gostar mesmo disto, porque senão não consegue” diz a proprietária do Vale Velho.
A procura de trabalho no setor da restauração tem vindo de pessoas imigrantes, sobretudo de nacionalidade brasileira. Ainda assim, pelo Vale Velho já passaram imigrantes de nacionalidade brasileira, angolana, venezuelana, cabo-verdianos e também, portugueses.
«Já há muitos anos que sempre tivemos uma grande falta de mão de obra neste ramo porque é muito cansativo, muito específico e temos de gostar muito para trabalhar nele. Realmente, a imigração ajuda-nos um bocado, mas não muito, porque nunca tivemos mão de obra especializada na parte da imigração», acrescenta José Santos.

A procura de trabalho pela imigração conta histórias de vida, o chef de cozinha realçou uma passagem de uma imigrante pelo restaurante em que chegou desesperada à procura de uma oportunidade. «Nós acolhemos-lha, demos transporte, fizemos tudo aquilo que podíamos fazer para ela ter uma melhor situação. Depois quando a senhora deu a volta por cima, foi-se embora. Quando se fala em imigração, é um assunto muito complicado» afirma José Santos.
“É sempre inspirador ver alguém que muda de país para melhorar as suas condições de vida”
João Fernandes, diretor do Hotel Vila D´Óbidos, em Óbidos, afirma que sente a elevada procura de imigrantes no setor e de diversas nacionalidades assim como mostra esperança e contentamento com os imigrantes que conseguem mudar as suas vidas noutro país.
A elevada procura no setor do turismo levou à criação do Programa de Formação e Integração de Migrantes que proporciona a integração dos imigrantes no setor do turismo, hotelaria e restauração devido à falta de mão de obra. Inscreveram-se mais de 5 mil migrantes abriram mais de mil vagas. Os países mais representados são o Brasil, a Angola, a Índia, o Nepal, o Paquistão e o Bangladesh. Até ao final do ano, cerca de 1300 imigrantes estarão a trabalhar em 329 restaurantes e hotéis de todo o país.