Drift: emoção e espetáculo no desporto onde “cada detalhe conta”
Em Portugal o drift tem ganho o seu lugar como uma modalidade de desporto alternativa. Com a crescente presença em eventos nacionais e competições internacionais, a modalidade tem contribuído para diversificar o panorama desportivo do país, favorecendo as comunidades locais e promovendo o uso criativo de infraestruturas urbanas e circuitos personalizados.
Reportagem de Mariana Pedronho
Originário no Japão, entre as décadas de 70 e 80, o drift rapidamente se espalhou pelo mundo, conquistando os Estados Unidos, a Europa e, também, Portugal. Trata-se de um desporto automobilístico que valoriza o controlo técnico dos carros em derrapagens prolongadas, realçando os ângulos, velocidade e estilo.
Em Portugal, o drift ganhou força com a criação de eventos como o Campeonato Portugal de Drift, que reúne pilotos experientes e novos talentos em competições cheias de adrenalina.
Montemor-o-Velho: o melhor lugar para o espetáculo
A seleção de Montemor-o-Velho como uma das 6 etapas do Campeonato Nacional de Drift, deve-se à sua destacada infraestrutura desportiva e experiência na realização de outros eventos de grande importância no local.
O Centro de Alto Rendimento (CAR), com enfoque em desportos aquáticos, tem sido palco de competições internacionais. A Taça do Mundo de Canoagem e o Campeonato Mundial Universitário, evidenciando a sua capacidade para receber atletas de elite e eventos de grande escala.

O evento proporcionou uma oportunidade única para promover a economia local. Estabelecimentos como restaurantes, hotéis e outros empreendimentos foram diretamente favorecidos pelo fluxo de visitantes e apreciadores que chegaram à cidade, monstrando que os efeitos benéficos do drift vai muito além das pistas.
“Ninguém faz um desporto alternativo com esses valores”
Daniel Azevedo, um dos responsáveis pelo evento, destacou a importância de iniciativas como esta para a consolidação do drift em Portugal, destacando que a modalidade já deixou de ser vista como uma prática marginal ou alternativa. “Hoje em dia temos aqui carros com mais de mil cavalos, a custar mais de 100 mil euros. Portanto, ninguém faz um desporto alternativo com esses valores”, afirmou.
Daniel Azevedo também salientou que o drift não se limita a ser apenas um espetáculo de adrenalina: “isto nasce do Japão, das serras do Japão, em que o pessoal subia de uma forma mais rápida do que nós conduzíamos de uma forma comum. Então foi-se adaptando isso e hoje tem de se fazer ligações nas drift zones, nos clipping points, portanto os pilotos têm objetivos e são avaliados por ângulos, velocidades”.
A organização tem investido em transmissões televisivas e em redes sociais para aumentar a visibilidade do desporto, e Daniel Azevedo acredita que esses esforços são essenciais para expandir o alcance do drift em Portugal.
“O impacto não é apenas na pista. Montemor ganha com o turismo, com o movimento nos negócios locais e com o reconhecimento da cidade como um destino para grandes eventos desportivos”
Daniel Azevedo
Uma “adrenalina diferente”
Os pilotos, como sempre, foram e sempre serão o coração do drift e de todos os eventos. Para eles, o drift representa uma mistura única de desafio técnico e expressão pessoal.
Pedro Sousa, natural de Braga, contou que a sua paixão pelo automobilismo começou com a influência de seu pai. Com uma trajetória inicial no motociclismo, o piloto encontrou no drift uma forma de explorar novos limites. “Vem do meu pai, nunca entrou em competição a sério, mas sempre gostou”, disse. Pedro Sousa descreveu ainda o drift como uma “adrenalina diferente”, destacando o caráter desafiador da modalidade.
“No drift, desafiar os muros é o que nos motiva. Cada curva é uma oportunidade de mostrar habilidade e coragem”, afirma Pedro Sousa. O piloto explicou ainda os desafios que enfrenta neste momento, começando pelo fato de que, além de correr, gere uma oficina e é ele que prepara o próprio carro para as competições, cuidando de tudo do princípio ao fim. Destacou a importância de garantir que o carro tem de ser forte e competitivo, enfrentando desafios não só na pista, mas também na sua preparação, que exige grande dedicação e profissionalismo”.
Mário Oliveira, de Mira, encontrou no drift não apenas uma paixão, mas uma forma de fortalecer laços familiares. O piloto contou que a construção do carro foi um projeto conjunto com o seu pai, o que trouxe ainda mais significado à sua participação. “O que me motivou foi ajudar o meu pai a recuperar o entusiasmo pelo automobilismo. Construímos o carro juntos, e isso foi um desafio enorme, mas também muito gratificante”.
O piloto destacou a sua presença assídua nos eventos de Drift, frisando que participa em “todos os eventos possíveis” com o objetivo de melhorar constantemente como piloto. Ele explicou que, durante os Drift Days, o foco está em treinar e aperfeiçoar a técnica, mesmo quando as condições não são as melhores: “tentamos desenhar nós uma pista mentalmente para andarmos a cumprir e fazermos disso um treino”.
Ao comparar o Drift com outras modalidades automobilísticas, Mário Oliveira destacou a singularidade do mesmo: “o drift é diferente…chamamos de derrapagens controladas”. Para o piloto, modalidades como o rally e o rallycross têm características distintas, “o drift é o drift”.
Questionado sobre os desafios que enfrenta ao competir e como é que isso molda a sua experiência no drift, o piloto destacou que o maior obstáculo é o nervosismo, especialmente durante as provas e qualificações. “Não é que vá com grande intuito de fazer grandes coisas, mas pelo menos participar o maior tempo possível”, explicou. Mário Oliveira admitiu que lidar com o nervosismo é, sem dúvida, a parte mais difícil.
Ambos os pilotos concordam que o drift é uma modalidade em ascensão, mas que ainda enfrenta desafios. Pedro Sousa destacou a necessidade de mais eventos e de uma avaliação mais transparente durante as competições. Já Mário Oliveira elogiou a comunidade: “Todos ajudam uns aos outros, e isso é o que torna o drift tão especial. Existe um espírito de camaradagem que não se encontra em outros desportos”.
A perspetiva do público: emoção e comunidade
Entre os milhares de espectadores, Tatiana Ferreira, vinda de Leiria, resumiu o impacto cultural e emocional do evento. “O drift é especial porque é diferente. Sempre gostei de adrenalina e de carros, mas o drift vai além. É mais intenso, mais próximo do público”.
Quando questionada sobre o que a atrai para o Drift, a jovem revelou que a paixão vem desde a infância e considera que o que a motiva mais é “a adrenalina” e o facto de “ser diferente dos outros desportos”.
Tatiana Ferreira também destacou o facto de o evento movimentar a vola de Montemor-o-Velho. “Atrai turistas, dá visibilidade à cidade e ajuda o comércio local. É algo que beneficia toda a comunidade”.
Drift e rally, as diferenças
Embora o drift e o rally compartilhem a necessidade de precisão e habilidade, as diferenças entre as modalidades são claras. Enquanto o rally se foca no tempo, com se cada segundo fosse decisivo, o drift valoriza o estilo, o ângulo e a execução das manobras em pista.
“No rally é uma batalha contra o relógio. No drift, é uma batalha contra si mesmo e contra os limites da pista”, explicou Daniel Azevedo. Para Pedro Sousa, todos deveriam experimentar o drift, destacando a diferença em relação a outras modalidades: “o outro é contra o relógio. É diferente”.
Embora também aprecie modalidades como o kart cross, que envolvem o desafio do tempo, o piloto descreve o drift como algo único: “o drift acho que é arriscar, o passar perto… é desafiar os muros”. O drift oferece uma adrenalina mais intensa, já que cada curva exige não apenas controle, mas também criatividade, “no drift, cada detalhe conta”.
Um futuro brilhante para o drift em portugal
Apesar dos desafios, o futuro do drift em Portugal parece promissor. Com eventos bem organizados, uma comunidade empenhada e cada vez mais interesse do público, a modalidade está a consolidar o seu lugar no cenário desportivo nacional.
Daniel Azevedo acredita que a chave para o crescimento está na união de esforços entre pilotos, organizações e patrocinadores. “Quem assiste uma vez, vira fã. O drift tem um poder único de cativar o público, e precisamos aproveitar isso para expandir ainda mais”.
Montemor-o-Velho foi mais do que uma competição, foi um testemunho do poder do drift em unir as pessoas, em criar memórias e em celebrar a paixão por carros e velocidade. Como Tatiana Ferreira concluiu: “eventos como este mostram que o drift não é apenas um desporto, é uma forma de vida”.