A vigia. Memórias da pastorícia
A vigia como é conhecida na aldeia de Alhões, concelho de Cinfães, é um ritmo de pastorícia que existe na Serra de Montemuro. Outrora os rebanhos eram guardados pelos jovens, devido à grande quantidade de cabeças de gado.
Por Mónica Costa
Dantes, como o gado era muito a divisão do rebanho era feita através de um rego de água que atravessa a aldeia de poente a nascente, sendo que existiam duas vigias. Os rebanhos iam separados para o monte.
Com o passar do tempo, devido ao fenómeno da emigração, os rebanhos foram diminuindo e foi organizada uma escala de acordo com o número de cabeça que cada família possuí. Existem roteiros próprios para a pastorícia, os baldios, conhecidos pelos pecureiros. Os locais escolhidos dependem da quantidade de pasto verde, da existência de água e das condições atmosféricas.
Desde o antigamente que a contagem do número de reses é feita na casa de um dos proprietários por altura do São João, como é referido por um dos contadores de gado “em cada dez dias vai um dia quem tiver vinte reses”.
Todos os dias quando o sino da igreja é tocado, por um dos pecureiros, os habitantes abrem o gado e este é levado para um dos lados da Serra pelos pastores, um à frente para conduzir a vigia e um atrás para evitar que alguma rês fique para trás. Os pastores vão acompanhados por cães de vigia, de forma a proteger o rebanho de ataques de lobos. Quando o tempo não o permite, o gado fica nas cortes, sendo alimentado com feno “em Alhões, as reses andam sempre em vigia, exceto quando há neve ou temporais”.
Das 9h às 21h no verão e das 11h às 17h no inverno os pastores que acompanham o rebanho alimentam-se de um simples farnel, constituído por um pedaço de broa e um naco de carne entremeada ou suã, lascas de bacalhau, sardinha frita e água. À tardinha alguns dos donos dos animais vão ao encontro da vigia à entrada da aldeia para ensinar às crias o caminho para a respetiva corte.
Em meados de maio aquando da tosquia das ovelhas, é feito o aproveitamento das lãs para confeção de meias. O gado é uma das formas de sustento dos habitantes de Alhões, uma vez que são vendidas as crias das cabras e das ovelhas para alguns restaurantes da região e particulares.
