Jornalismo é essencial para combater a desinformação em Portugal
Ambientes de proximidade e de muita informação, como as redes sociais, podem levar à desinformação se não houver o cuidado com o que se escreve e com o que se partilha.
Texto de Carla Ferreira e áudios de Mariana Santos e Rodrigo Machado
“O jornalismo está permanentemente a ser desafiado a reinventar-se, é um processo de construção permanente, e nunca como antes foi tão importante o exercício do jornalismo e do rigor”. Foram as palavras finais deixadas por Pedro Jerónimo, investigador no Centro de Investigação LabCom da Universidade da Beira Interior, na videoconferência que decorreu na Unidade Curricular de Jornalismo de Proximidade, na Escola Superior de Educação de Viseu, no dia 28 de fevereiro.
Pedro Jerónimo é responsável pelo projeto “MediaTrust.Lab – Laboratório de Media Regionais para a Confiança e Literacia Cívicas”, que realizou um estudo pioneiro sobre a desinformação em contextos de proximidade em Portugal, que procura identificar e analisar estratégias e práticas de fact-checking por parte dos jornalistas locais e a potencial colaboração das audiências dos media locais no processo. Por meio de treino, ferramentas digitais e um aplicativo móvel, visa também instruir os jornalistas e as audiências a verificar factos de forma mais eficiente.
“Percebemos que, de facto, a investigação em torno da desinformação tem crescido nos últimos anos, no entanto, a parte da desinformação pensada a partir de um contexto mais local, de maior proximidade não existia, portanto, seria interessante refletir sobre isso”, explica o investigador.
O projeto está a meio do seu percurso, mas já são conhecidos os primeiros dados que resultam de um inquérito nacional feito a jornalistas, e de um estudo sobre “Desertos de Notícias”. Uma grande percentagem de jornalistas reconhece que a desinformação é um problema no contexto português, estando os jornalistas entre os agentes de desinformação, para além dos políticos e da sociedade em geral. Metade dos concelhos em Portugal situa-se a um nível de “Desertos de Notícias”. São as principais conclusões apresentadas, resultantes dos estudos já realizados no âmbito do “MediaTrust.Lab”.
Pedro Jerónimo sublinha que estes concelhos não se encontram invisíveis à cobertura jornalística, no entanto, não possuem um acompanhamento regular, uma vez que não existe nenhum órgão de comunicação social com sede nesses concelhos.
O investigador considera que a desinformação faz crescer os discursos populistas e que as redes sociais são o palco privilegiado para a circulação dessa desinformação. “O jornalismo é um elemento essencial para ajudar ao equilíbrio de forças. É uma peça importante para combater isto, mas a literacia para os media, literacia digital, literacia para as notícias, é igualmente importante”, refere Pedro Jerónimo.
Na sua perspetiva, a desinformação combate-se, não só através dos jornalistas, mas também com os cidadãos. “Estes não devem absorver como verdade a primeira coisa que lhes aparece à frente, sem antes fazerem uma breve pesquisa, procurar outras fontes e, a partir daí, construírem o seu juízo crítico e chamar a atenção aos jornalistas quando eles não fazem o seu trabalho”, remata o investigador.
Pedro Jerónimo considera os jornalistas escrutinadores do poder e os cidadãos escrutinadores dos jornalistas, pois estes não conseguem estar em todo o lado e, por outro lado, devido à escassez de tempo e recursos, torna-se mais difícil fazer a verificação da informação, situação que resulta em prejuízo para o público, que desacredita no jornalismo ainda que ele seja importante.
O investigador alerta para os perigos da desinformação, nomeadamente, para o facto de os cidadãos serem, muitas vezes, disseminadores inconscientes de desinformação ao partilharem conteúdo de pessoas em quem confiam, sobretudo, nas redes sociais, palco muito explorado pela desinformação, um facto que importa combater.
Suportada em afirmações de autores conhecidos, Pedro Jerónimo deixa duas importantes recomendações para quem é, ou vai ser jornalista. “É correto ser o primeiro, mas primeiro é preciso estar correto”, “um jornalista é alguém obcecado pelo rigor”. É com estas advertências que o investigador apela para o combate à falta de rigor que existe atualmente e que, consequentemente, leva à desinformação das pessoas.